O regresso da cassete com Zarabatana
O formato cassete está de volta. Para quem se desembaraçou do seu leitor/gravador de cassetes e da colecção das ditas isto é uma má notícia, mas quem ainda tem esse equipamento em casa é altura de o voltar a utilizar. Entre outros casos de edição no domínio da música a que se chama “alternativa”, surge agora um no domínio específico do jazz e da música improvisada. O trio lisboeta Zarabatana acaba de lançar a sua obra de estreia em fita, “Fogo na Carne”, através da “tapelabel” A Giant Fern. Yaw Tembe (trompete, percussão, voz), Bernardo Álvares (contrabaixo, voz) e Carlos Godinho (percussão, voz) são os músicos intervenientes.
O texto de apresentação do projecto, da autoria de Rui Eduardo Paes, refere o mesmo deste modo: «A música do trio Zarabatana apresenta-se como sendo “dirty garage world jazz”. À partida, parece um contrasenso, dado que as abordagens “garage” são específicas do rock e o que se define como “world jazz” é um jazz que procura mais claros enraizamentos etno do que aqueles que hoje contém. De um lado temos uma vertente urbana, ou talvez mais exactamente, suburbana, e do outro surge o apelo da floresta e da savana. Dir-se-ia que são mundos irreconciliáveis, mas quando ouvimos Tembe, Álvares e Godinho tudo, subitamente, faz sentido.»
Lê-se ainda: «Se a música sempre manteve um carácter ritualístico, ainda que os cerimoniais à volta da fogueira tenham dado lugar às festas solenes nos aposentos do rei e aos presentes espectáculos formais nos auditórios burgueses, o que os Zarabatana recuperam é o perdido sentido tribal que ela teve em tempos remotos. Este jazz com atitude punk é novamente uma acção para espantar os espíritos ou para os convocar. Uma reconciliação com o húmus e as estrelas, colocando-nos, a nós ouvintes, no eixo das forças que sobem e descem do céu e da terra. O que só quer dizer uma coisa: é importante.»