Cecil Taylor R.I.P.
Morreu ontem, 5 de Abril de 2018, aos 89 anos de idade, um dos gigantes da história do jazz, músico que para sempre constará nos anais como uma voz única e inovadora deste género musical, a par de Duke Ellington, Charlie Parker, Thelonious Monk, John Coltrane, Eric Dolphy e Ornette Coleman. Com uma abordagem ao piano que pegava em aspectos vindos do ragtime e do stride, bebendo na música de Art Tatum, e os juntava ao tipo de fraseamento quebrado de Monk e do be bop, também incorporando influências de compositores contemporâneos como Bela Bartok e Karlheinz Stockhausen, Taylor era conhecido pela forma muito física e intensa com que tocava, com cascatas de acordes e polirritmias intrincadas, mas sempre arrebatadoras para os ouvidos.
Um dos pioneiros do free jazz, teve uma longa carreira, iniciada nos anos 1950 ainda com os parâmetros do pós-bop. As suas Units, com músicos como Jimmy Lyons e Sunny Murray (depois Andrew Cyrille), marcaram os rumos futuros da improvisação, bem como os duos que gravou com bateristas, por exemplo Tony Oxley, Louis Moholo, Paul Lovens, Han Bennink, e outros com instrumentistas do relevo de Evan Parker, Derek Bailey, Tristan Honsinger e Mat Maneri. Numa expressão musical em que imperam o machismo, a misoginia e o chauvinismo estava em contra-corrente, ainda que à pergunta de um jornalista sobre se era gay (nunca o escondeu, mas também nunca o afirmou objectivamente) respondesse com esta frase: «Acha que uma palavra com três letras define a complexidade da minha humanidade? Evito a armadilha das definições fáceis.»
Tivemos a oportunidade de ouvir e ver Cecil Taylor no nosso país em cinco ocasiões: primeiro em 1988, na Gulbenkian, depois em 1999, no Jazz no Parque (Porto), em 2004 no Guimarães Jazz (com Bill Dixon e Tony Oxley) e no Centro Cultural de Belém (com Oxley), e a última em 2011, para um concerto a solo no festival Jazz em Agosto em que também leu a sua poesia e dançou. Em Portugal, deixou influências no pianista Rodrigo Pinheiro.