Billy Hart e Dave Holland vêm ao Funchal em Julho
Vem aí mais uma edição do Funchal Jazz, com seis concertos agendados para o Parque de Santa Catarina de 12 a 14 de Julho. A abertura faz-se a 12 com um jovem, mas já com provas dadas, grupo nacional, o Ricardo Toscano Quarteto. O repertório do líder saxofonista e dos seus pares, João Pedro Coelho (piano), Romeu Tristão (contrabaixo) e João Pereira (bateria) baseia-se em “standards” e temas de grandes figuras da história do jazz, tocados como se tivessem sido compostos hoje, em interpretações com um carácter de urgência e uma autenticidade de todo invulgares. Segue-se, na mesma noite, uma cantora que tem dado muito que falar, também solidamente enraizada na tradição, Jazzmeia Horn. Igualmente muito jovem – conta apenas com 23 anos –, tem um estilo vocal devedor a Betty Carter e Sarah Vaughan e uma abordagem que se estende a outras expressões da música afro-americana para além do jazz, pelo que não surpreenderá se pegar numa canção de, por exemplo, Stevie Wonder.
O segundo dia do festival funchalense arranca com uma actuação do Vijay Iyer Sextet, formação cujo mais recente álbum, “Far From Over”, saído o ano passado, já foi apontado pela crítica especializada como o “Shape of Jazz to Come” dos nossos dias. Com o pianista e compositor tocam Graham Haynes (corneta, fliscórnio, electrónica), Steve Lehman (saxofone alto), Mark Shim (saxofone tenor), Stephan Crump (contrabaixo) e Tyshawn Sorey (bateria). Se Toscano e Horn significam a conversão do passado do jazz para o presente, Iyer e a sua trupe inventam o futuro para o adiantar no momento em que vivemos, ainda que sempre com referências no património construído. A segunda parte da sessão está entregue ao Billy Hart Quartet, que inclui o saxofonista tenor Joshua Redman como convidado especial. Hart (foto acima) é um dos baluartes da bateria jazz ainda activos, tendo tocado com músicos como Miles Davis, Herbie Hancock, Wayne Shorter, McCoy Tyner e Stan Getz. Com 78 anos de idade, a sua vontade de se manter na crista da onda explica a escolha dos músicos do seu grupo, como Ethan Iverson, pianista dos The Bad Plus, e Ben Street, um dos mais requisitados contrabaixistas da actualidade.
A última noite do Funchal Jazz inicia-se com um curioso trio juntando personalidades de diferentes gerações e filiações musicais, designadamente Dave Holland (contrabaixo, outro antigo colaborador de Miles), Zakir Hussain (tablas, parceiro de John McLaughlin nos Shakti) e Chris Potter (saxofone tenor). O American Real Book e a música clássica indiana servem como base para as explorações desta invulgar banda. O fecho chega com a Bandwagon de Jason Moran, outra referência do jazz do século XXI. Com o pianista e compositor que vai beber a Fats Waller e Duke Ellington e leva esse espólio até ao hip-hop vêm o contrabaixista Tarus Mateen e o baterista Nasheet Waits. Durante as madrugadas do festival, os membros do Ricardo Toscano Quarteto e o guitarrista André Santos animarão as “jam sessions” marcadas para o Scat Funchal Music Club & Restaurant.