Jazz e censura na Cátedra José de Almada Negreiros de Göttingen

O investigador português Pedro Cravinho, colaborador da jazz.pt, foi convidado pela prestigiada Cátedra José de Almada Negreiros da Georg-August-Universität Göttingen para apresentar uma reflexão em torno do jazz e da censura em Portugal durante o século XX. O evento, organizado pelo professor catedrático Tobias Brandenberger, contou com a presença do Cônsul-Geral de Portugal em Hamburgo, Vasco Queiroz Seruya, e o apoio do Instituto Camões, assim como vários académicos portugueses e congéneres europeus, os quais, em 30 e 31 de maio, apresentaram diferentes reflexões em torno da censura e práticas de repressão cultural ao longo do tempo.

Cravinho contribuiu com uma palestra sob o título “Entre Revoluções: uma análise sobre jazz e censura em Portugal", referindo que «ao longo da última década, à exceção dos convites recebidos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto de algumas instituições de ensino superior no Brasil, as minhas intervenções ao nível académico, um pouco por toda a Europa, têm sido feitas não na minha língua materna, o português, mas em inglês, a língua do país que me acolheu enquanto investigador.» «Foi com uma enorme satisfação que recebi um convite para apresentar o meu trabalho em português. Mas posso confessar que tive igual satisfação pela decisão de incluírem num colóquio desta natureza uma reflexão dedicada ao jazz, enquanto prática performativa e social, a par de outras importantes manifestações artísticas e culturais, como a literatura, teatro e o cinema.»

Sobre o seu mais recente livro, “Encounters with Jazz on Television in Cold War Era Portugal”, levado à estampa pela Routledge, acrescentou que se trata de um estudo pioneiro, não só em Portugal, como a nível internacional. «E pioneiro, porquê? Poderão legitimamente questionar. Infelizmente, à exceção desta publicação dedicada ao estudo da produção de programas televisivos dedicados exclusivamente ao jazz no âmbito da Radiotelevisão Portuguesa durante o regime do Estado Novo, pouco, ao nada se sabe sobre processos similares relativamente a outros géneros musicais, como por exemplo música erudita ou folclórica. Assim como sobre o fado. Ou seja, em pleno século XXI, ainda estão por cartografar, e consequentemente analisar os programas televisivos de todos esses géneros musicais transmitidos pela Radiotelevisão Portuguesa durante o regime do Estado Novo, com a exceção do jazz. Por este motivo referir que se trata de um estudo pioneiro em Portugal. Mas poderá afirmar-se o mesmo relativamente ao contexto internacional, pois, infelizmente, ainda não existem estudos similares sobre jazz na televisão em outros países.»