Estarmos em paz
A saxofonista Camilla George nasceu na Nigéria, mas tem sido a partir de Londres que tem conquistado o mundo. Em 2014 fundou o seu quarteto e desde então editou dois discos: “Isang” (2016) e “The People Could Fly” (2018). Para breve está prometido um novo álbum, “Ibio-Ibio”, dedicado à tribo nigeriana Ibibio – com data prevista de saída no final de setembro. Camilla George vai apresentar-se ao vivo em Portugal (a 17 de julho, no Matosinhos em Jazz), ao leme do seu quarteto. Antecipando esta atuação, a saxofonista e compositora fala-nos sobre o seu percurso e o seu trabalho.
Antes de mais, quem foram as principais referências musicais que mais influenciaram a sua própria música?
Acho que uma grande influência direta na minha música foi Kenny Garrett. Ele é um saxofonista incrível e também um grande compositor. Aquilo que eu mais gosto nas suas composições é que elas são muitas vezes harmonicamente complexas, mas soam simples e muitas vezes cantáveis. Este é o estilo de composição que realmente adoro – que é exatamente o oposto de escrever a música mais difícil que consegue, só porque sim! Acho que tem a ver sobretudo com a capacidade de envolver o público na sua visão.
Li que começou a tocar quando tinha 11 anos. O que a levou a tocar saxofone?
Na verdade, eu tentei tocar saxofone quando tinha 8 anos. Uma amiga da minha mãe tinha um saxofone tenor, mas ela não conseguia fazer nenhum som, e então eu pedi para tentar e consegui fazer sons! A partir daí fiquei obcecada em aprender a tocar saxofone, mas só quando cheguei ao sétimo ano é que tive a oportunidade de começar a aprender.
A sua música soa fresca e atual, mas está também ancorada na tradição. Como chegou ao seu próprio som?
Obrigada! Eu acho que é importante para mim ter os fundamentos da tradição do jazz na minha música, pois essa é a música que eu amo e me esforço para aprender todos os dias. No entanto, eu também queria adicionar elementos da música folclórica africana para referenciar minhas raízes.
Já editou dois álbuns, “Isang” (2016) e “The People Could Fly”(2018). Como tem sentido a evolução da sua música?
Penso que estou gradualmente a encontrar a minha voz como compositora. Quando escrevi a música do meu primeiro álbum era muito inexperiente e, embora tenha muito orgulho nesse, sinto que agora é que estou a encontrar o meu caminho enquanto compositora!
O seu disco mais recente é “The People Could Fly”. Qual é o significado do título? É sobre esperança?
O álbum é baseado num livro de contos populares africanos, que estão ligados à escravatura, fábulas em que os animais estão nos lugares dos escravos e dos proprietários dos escravos. Embora estes sejam contos de tristeza e dor, em última análise este álbum é sobre a esperança de que possamos estarmos em paz, uns com os outros.
Na história do jazz não há muitas mulheres instrumentistas, mas as coisas estão a mudar. Como está a sentir esta evolução?
Acho que na cena do jazz do Reino Unido isso se deve principalmente a uma organização chamada Tomorrow’s Warriors. Outras organizações têm tentado também fazer programas para recrutar mais mulheres, mas a Tomorrow’s Warriors conseguiu criar um espaço seguro para as mulheres e pessoas de minorias étnicas aprenderem. Criaram uma família e músicos como eu, Nubya Garcia, Sheila Maurice-Grey, Shirley Tetteh, etc., emergiram por causa deste programa. Acredito que isso facilitou que mais mulheres, vindas de outros lugares, venham surgindo.
Acho este crescimento de mulheres na cena uma coisa ótima. Adoro o facto de que minha banda é metade feminina e metade masculina - não por planeamento, mas porque escolhi os melhores músicos para o grupo. É assim que deveria ser, mas precisávamos de organizações como a Tomorrow's Warriors para equilibrar o terreno.
O que podemos esperar do concerto em Matosinhos?
Bom, vou estar a apresentar algum material do meu próximo álbum, “Ibio-Ibio”, que será lançado a 30 de setembro. Este disco celebra a tribo Ibibio na costa sudeste da Nigéria – a nossa criação e as nossas crenças. Estarei a trazer uma banda de estrelas: Sarah Tandy no piano, Rod Youngs na bateria e Daniel Casimir no contrabaixo! Mal posso esperar!