Mário Costa, 24 de Fevereiro de 2023

Total liberdade

texto: Nuno Catarino / fotografia: Florence Ducommun

O baterista Mário Costa, natural de Viana do Castelo, é um dos músicos mais versáteis da cena jazz nacional. Começou por se fazer notar enquanto membro do trio de Hugo Carvalhais e desde então tem evoluído de forma contínua. Integra atualmente um dos grupos mais interessantes da cena nacional, o quarteto MAZAM (com João Mortágua, Carlos Azevedo e Miguel Ângelo), que editou em 2022 o excelente álbum “Pilgrimage”. Ao longo dos últimos anos encetou múltiplas parcerias e colaborações tendo tocado com músicos lendários como Michel Portal, Joachim Kühn, Wynton Marsalis e... Quim Barreiros.

Estreou a sua discografia na condição de líder com “Oxy Patina”, no ano de 2018, ao leme de um trio com Benoît Delbecq e Marc Ducret – consagrado como disco do ano para a jazz.pt. Agora, Costa acaba de editar o seu segundo registo, “Chromosome”, num novo quarteto estelar, com Delbecq, Bruno Chevillon e Cuong Vu. Nos próximos dias o baterista vai apresentar o novo disco ao vivo, com concertos em Lisboa (24 de fevereiro, CCB), Braga (dia 25, Maison826) e Paris (dia 26, 19 Paul Fort). Antecipando estes concertos, o baterista e compositor Mário Costa fala-nos sobre o novo disco e sobre o seu percurso. 

 

Vais editar o novo disco, “Chromosome”. Que ideias pretendes transmitir com este segundo disco como líder?

Assim como no meu primeiro álbum “Oxy Patina”, a ideia central de ter o meu próprio projeto é de “total liberdade”! Não o digo tipo chavão para soar pomposo, mas sim porque efetivamente esta é a única forma de ter um projeto onde sou eu a 100%. Não quero com isto dizer que o facto de ser “sideman” e receber dicas e direções musicais noutros projetos não seja igualmente enriquecedor e positivo - na verdade são estas experiências, aprendizagens e dicas que nos fazem evoluir como músicos na totalidade (competências técnicas, estéticas e de camaradagem). Do ponto de vista artístico e conceptual, estaria a mentir se dissesse que existe uma mensagem subjacente em torno de todo o álbum, embora tenha sempre muito cuidado na unificação, equilíbrio e coerência sonora e estética. O maior cuidado e objetivo que tive foi escrever e conceber uma música que sirva e impulsione o melhor de cada um dos músicos que convidei e, esses sim, já estavam decididos há muitos tempo, apenas esperava pela oportunidade! Será que isto já me está a castrar a tal “liberdade a 100%”?

Voltas a contar com o Benoît Delbecq, com quem gravaste também o teu disco de estreia. Porque escolheste trabalhar com este pianista?

O Benoît é sem dúvida um dos pianistas mais criativos e singulares da cena jazzística mundial, e não sou só eu que o digo! Para o “meu” projeto (que é de todos!) ele tinha aquilo que eu precisava. Numa primeira fase, no “Oxy Patina”, como era um projeto sem contrabaixo, ele possuía a componente híbrida de juntar teclados ao piano, e isso era para mim fundamental para ter um som de grupo completo em todo seu espectro. A sua habilidade de preparação do piano (inspirado pelo John Cage, mas já vai muito além disso) transformando-o num instrumento mais rítmico e percussivo, sempre foi uma das coisas que mais impressionou (e hipnotizou) desde que o ouvi a primeira vez (no trio do John Hébert), e desta forma tenho também outro “percussionista” no grupo. Outra característica do Benoît que fui descobrindo ao longo destes anos, enquanto trabalhávamos juntos e que mesmo ele vai evoluindo… são os samplers. O Benoît possui um enorme “banco de sons”... alguns rítmicos (que usamos em certos momentos como “Drum Battle”) e outros melódicos, “pequenos excertos” dele a tocar. A capacidade de se auto-gravar em tempo real é extraordinária e é sem dúvida mais um elemento extra a este grupo, que catapulta a música para outro plano de ação (tanto sonora como de interação).

Para este novo disco chamaste um contrabaixista, o Bruno Chevillon, outro músico francês. O que achas que ele poderia contribuir para a tua música?

O Bruno Chevillon surgiu inicialmente como “substituto” do Marc Ducret. Parece estranho substituir uma guitarra por um contrabaixo, certo?! Mas não fazia sentido substituir um músico com uma personalidade musical tão forte e única como o Marc Ducret por outro guitarrista. Nunca iria soar a ele, e a música de “Oxy Patina” tinha sido idealizada para aquelas mãos. Na verdade, foi ao chamar o Bruno Chevillon (logo após o lançamento de “Oxy Patina”) que o som deste novo grupo se começou a formar. Uma vez o Mário Delgado assistiu a um concerto nosso e disse algo como: «este é o trio de piano que ouvi com o som mais original e diferente» (tentei encontrar a publicação onde ele comentou para ser preciso na frase, mas não consegui encontrar). Já tinha tocado com o Chevillon no Paris Jazz Festival, um pouco antes de o ter convidado, e claro que conhecia o trabalho magnifico dele em gravações, mas foi a componente melódica e virtuosa de domínio do instrumento que me levaram a convidá-lo a “substituir uma guitarra”. Definitivamente não procurava um contrabaixista, apenas baixista.

Para o novo disco juntaste também o trompetista Cuong Vu. O que te levou a convidá-lo?

A primeira vez que ouvi o Cuong Vu ao vivo foi em 2005 com o Pat Metheny Group no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Fui de propósito a Lisboa para ver o Pat Metheny e, claro, o Antonio Sanchez, mas claramente o som do Cuong maravilhou-me. Devo dizer que estava um som de sonho, igual ao CD, fiquei impressionado! Mas o som da trompete do Cuong, com a mistura dos delays e reverbs foi magnifico e fiquei com aquele som na cabeça. Mais tarde, em 2008, numa ida a Nova Iorque, assisti ao concerto do trio dele no Stone e mais uma vez fiquei impressionado e com o desejo de um dia tocar com ele. Pronto, a convite do Adelino Mota para um concerto no Jazz Valado, surgiu a oportunidade e reuni as (supostas) condições para o trazer a Portugal… mas, infelizmente devido as restrições do covid, ele teria de ficar 15 dias de quarentena... Tive de adiar a vinda dele e em 2022 lá consegui confirmar mais uma serie de concertos para finalmente o trazer cá e gravarmos a música que tinha escrito e idealizado com ele.

 


Editaste em 2018 o teu disco de estreia, “Oxy Patina”. O que representou para ti este primeiro disco em nome próprio? E como sentiste a sua receção?
 

O “Oxy Patina” foi um disco que surgiu sem qualquer perspetiva ou pressão para ser um álbum. Devo confessar que na altura foi um salto de cabeça, pois nunca tinha tocado nem conhecia pessoalmente o Benoît Delbecq nem o Marc Ducret (apenas os tinha cumprimentado num encontro informal em Paris). E para primeiro álbum, convidar dois músicos com a carreira de ambos, sem ter a certeza que as minhas composições os serviam e lhes agradavam, ou até mesmo se iriam funcionar, foi realmente uma grande aventura. A minha ideia foi fazer dois dias de ensaios (gravados) e um concerto e se daí resultasse bom material editava em disco. E assim foi, o resultado, a energia, o som e acima de tudo, a música, ficaram com a qualidade pretendida e acabei por editar. Depois a aceitação do público e as diversas opiniões foram sem dúvida uma enorme surpresa. Não estava à espera de receber os títulos de “disco do ano” e “musico do ano” pela jazz.pt, mas foram muito marcantes na minha carreira como líder, e obviamente estas pequenas coisas dão força e motivação para continuar a investir e degrau a degrau ir construindo a carreira. Internacionalmente, o disco também teve uma aceitação extraordinária, e claro que devo isso à Clean Feed pelo excelente trabalho que fazem na divulgação das suas edições. Mas o mais importante no meio de tudo isto, foi ter criado um grupo novo, a tocar apenas a minha música com o objetivo de fazer algo diferente e original. Não posso ficar mais orgulhoso quando ouço frases como «poucos músicos conseguem criar um novo som, Mário Costa conseguiu em "Oxy Patina”», dita pelo Carlos Martins, ou o Joachim Kühn a mencionar: «It gives me a big pleasure to listening to very good New Jazz with high musicianship. This is jazz of today – with the zeitgeist». Vermos o nosso trabalho ser homenageado e apreciado pelos colegas e figuras incontornáveis do jazz nacional e internacional é sem dúvida o maior retorno de todo esse tempo de dedicação. 

Tal como o anterior, este novo disco volta a ser editado pela Clean Feed. Porquê esta escolha e qual a tua ligação com a editora? 

A minha ligação com a Clean Feed começou em 2010, com o disco “Nebulosa” do Hugo Carvalhais, mas a verdade e que a ligação aos discos da editora já vem anteriormente. Em 2018, após ter decidido lançar o resultado do concerto com o Ducret e Delbecq em disco, obviamente o Pedro Costa foi a primeira pessoa a quem mostrei e logo se mostrou interessado em editar e foi basicamente assim que iniciamos esta parceria, que resulta agora neste segundo álbum também na editora.

Vais apresentar este disco ao vivo em Lisboa, Braga e Paris. O que podemos esperar destas atuações? Qual é a tua expectativa?

No ano passado já fizemos três concertos e embora a música não estivesse muito rodada, o resultado foi magnifico. Tocar em quarteto obriga o trio a estar mais coeso e unido no acompanhamento e isso sem dúvida dá uma outra força coletiva ao som do grupo. A minha expectativa é que serão uns bons concertos, onde estarei acompanhado por magníficos músicos e de elevado nível de performance. Claramente o jazz e a criatividade dependem sempre de inúmeros fatores… até o jantar pode ditar se o concerto vai ser magnifico ou não, a temperatura da sala, ou as luzes... Por isso, no meio de tantas variáveis, só tenho uma certeza: sou fã de todos os músicos que estão ao meu lado no palco e nunca os vi nem ouvi tocar nada que não fosse simplesmente mágico, por isso acho que no mínimo será uma viagem com bastante magia e energia, pois é para isso que lá estarei! 

Além deste teu grupo, no âmbito do jazz, tens trabalhado com o quarteto MAZAM, com o João Mortágua, o Carlos Azevedo e o Miguel Ângelo, que editou no ano passado o segundo disco “Pilgrimage”. Como sentiste o feedback a esse disco e quais os planos para este grupo?

Acima de um quarteto que se reúne para tocar, somos um grupo de quatro amigos que se reúnem para se divertirem, rir, jantar, discutir e também para tocar. Claro que o resultado da música deste grupo reflete tudo isso, pois ir para estúdio criar um disco do zero, sem qualquer único compasso de música escrita, só pode acontecer se os quatro elementos estiverem em completa sintonia e respeitarem o espaço e ideias (musicais) de todos. O “Pilgrimage” é o fruto disso e resultou de uma sessão sem qualquer intuito ou objetivo, apenas partir de alguma ideia sugerida por um dos quatro como mote de partida e a partir daí… só ouvir e reagir. Os planos são sem dúvida continuar com este projeto e apresentar um novo trabalho em breve. Infelizmente nem com o primeiro álbum, no Carimbo Porta-Jazz, como com este segundo fizemos muitas apresentações ao vivo, como seria de esperar com um álbum com boas criticas e com uma logística claramente fácil, pois devido à abertura musical que este grupo tem, estamos disponíveis a tocar sem piano, apenas com teclados e outros sons, o que acaba por ser também uma forma diferente de inspiração e criação espontânea, pois leva o grupo noutra direção.

Ao longo dos últimos anos tens também tocado com o Hugo Carvalhais. Como tem sido trabalhar com a sua música e os seus grupos, que vão também evoluindo?

O Hugo, foi sem dúvida o meu “padrinho” neste percurso e na música que faço e ouço hoje. Quando fui de Viana do Castelo para a ESMAE, no Porto, o meu conhecimento no jazz e as minhas referências eram escassas e foi o Hugo quem me apresentou alguns dos músicos que mais gosto e oiço. Trabalhar com ele é sempre um enorme desafio pois ele não se contenta (de todo) com o existente. A busca da novidade, da surpresa e do inesperado são sem dúvida as maiores virtudes dele. Claro que não podemos esquecer que o Hugo é um dos maiores contrabaixistas portugueses, e é necessário lembrar que para além dos discos criativos que ele concebe, possui um enorme conhecimento na tradição do jazz e sabe tudo sobre contrabaixos e contrabaixistas. Por isso, desde tocar a música dele, até tocar standards ou outra música qualquer, irei sempre tentar fazer par com o Hugo Carvalhais. 

Já tocaste com músicos lendários do jazz europeu como Michel Portal e Joachim Kühn. O que tens apreendido com estes contactos?

O ditado “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” responde claramente a esta pergunta. Trabalhar e conviver regularmente (dezenas de concertos) com lendas vivas do jazz é sem dúvida a maior experiência que se pode ter. Ambos são força rara da natureza, o Portal tem 87 anos e continua a apanhar o seu comboio e a viajar sozinho para os concertos, é impressionante! Em palco, como a sua carreira afirma, não há nada a dizer, sempre de ouvido aberto, dono de um som único e sempre a sugerir ideias novas. É engraçado estar a conversar com ele e de repente ele fala da Maria João Pires ou do Pierre Boulez como se eu os conhecesse ou se fôssemos todos da mesma linhagem… Contou-me que uma vez fez uma viagem para América Latina e advinha quem ia ao lado dele?! O Eusébio! O avião apanhou muita turbulência e o Eusébio foi à mala buscar um crucifixo e começou a rezar altíssimo a achar que ia morrer [risos]. 

O Joachim Kühn é um jovem de 20 anos num corpo de um sénior de 78! É sem dúvida um furacão e tsunami juntos, a “raiva” que ele coloca no piano e a energia que ele propaga por todos os elementos no palco é impressionante e única. A primeira vez que toquei com ele… acabámos o ensaio de som às 17h, depois de um longo ensaio e teste de som, para ver toda a música que estávamos a estrear… E diz ele: «A que horas é o concerto e a que horas abrem as portas? Sugeria fazermos uma coisa: antes de abrirem as portas, fazemos um concerto de uma hora apenas... Improvisação para aquecermos. Depois abrem as portas para o público entrar, dez minutos, e nós já estamos quentes para começar efetivamente o concerto». Todos achámos que ele estava na brincadeira, mas não!… Uma lição de energia, entrega e dedicação! Definitivamente a maior lição com estas lendas é: «Quando é para ser, é!» Não existe meio termo, se é para tocar é para tocar com tudo, dar tudo, não há espaço para intelectualizar e teorizar… Só há uma forma de o fazer: tocar para a frente e levar todos em palco connosco.


Além destes projetos ligados ao jazz, trabalhas também com músicos ligados à música popular portuguesa, como Miguel Araújo e Ana Moura. Sentes que nestes contextos ganhas aprendizagens para o teu próprio percurso?
 

Sem qualquer dúvida que sim. Comecei a tocar aos seis anos no grupo de bombos (“Zés Pereiras”) da minha freguesia. Na altura tocava pela paixão de tocar e estar com os meus amigos, mais tarde fui para as bandas filarmônicas e continuava a tocar pela paixão de tocar e de estar com os amigos, depois fui para os grupos de “bailarico” e novamente tocava por paixão e cada “baile” era como que estivesse a tocar na Ópera de Sidney… Sempre tive a paixão de tocar e o sonho de um dia ser músico profissional e fazer digressões por todo mundo. Todas as minhas decisões, estudo e estratégias sempre foram com o objetivo de um dia ser músico profissional (entenda-se por isto: viver só e apenas de concertos). Quando surgiu o convite do Miguel Araújo, era apenas para uma substituição, um único concerto, mas como a secção rítmica de substituição funcionou perfeitamente para o que ele queria, passamos a ser a banda principal… Se não tivesse começado a tocar com o Miguel, não teria chegado à Ana Moura, que me levou a viajar por dezenas de países e realizando centenas de concertos pelas maiores salas do mundo… Se não tivesse a experiência e a rodagem de fazer concertos e viajar praticamente todos os dias, tocar com poucas horas de sono numa grande sala em frente a 3.000 ou 4.000 pessoas ou ao ar livre para 20.000, certamente que no momento em que pisei o palco principal do respeitado festival Jazz In Marciac, ao lodo do Wynton Marsalis a minha postura seria outra.

Assim, não tenho qualquer dúvida que tocar com diferentes músicos de diferentes áreas musicais seja uma mais valia… Obviamente, se soubermos aproveitar a oportunidade e soubermos retirar o melhor que cada uma dessas experiências nos pode proporcionar. Temos de ver as situações pelos nossos olhos e nunca pelos olhos dos outros… Os músicos, principalmente os elitistas como os do jazz e da música clássica, são preconceituosos à partida, julgam os outros sem qualquer conhecimento de causa e apenas com base numa ideia errada. Tenho conhecido cada vez mais músicos que fazem várias coisas distintas, alguns numa certa fase da vida escolheram fazer certas coisas por necessidades da vida, e isso é o mais importante, cada um tomar as suas próprias decisões, escolher fazer aquilo que o irá ajudar no seu percurso como músico e como pessoa. Nunca esquecer que tudo é relativo, a Ana Moura já fez um concerto com o Jeff “Tain” Watts em Nova Iorque no famoso (agora extinto) clube Jazz Standard, fiquei louco ao ver isso no YouTube e quando lhe perguntei ela não fazia ideia quem ele era, e achou que seria um barzito de jazz com músicos locais! Quando digo ao pessoal do jazz europeu que toquei com a Ana Moura na Ópera de Sydney, no Carnegie Hall, na Filarmónica de Berlim, etc., ficam todos de boca aberta! Ou seja, o que para uns não diz nada, para outros tem um enorme significado.

Dito isto: a meu ver, devemos fazer o nosso percurso com base nas nossas necessidades e gostos e sempre com a consciência que somos únicos e diferentes. O Jeff “Tain” tocou com o Wynton Marsalis e até com a Ana Moura, eu toquei com a Ana Moura e até com o Wynton Marsalis… Mas eu toquei com o Quim Barreiros e ele não, por isso eu já experienciei uma coisa que ele jamais irá vivenciar, por isso sou único e devo respeitar e estar orgulhoso da minha singularidade! 

Como sentes a cena jazz nacional da atualidade? E particularmente, quanto a bateristas? Sentes que estão novos talentos a aparecer? 

Acho que esta pergunta podia dar uma nova entrevista! Sei que cada vez há mais gente a estudar e a lançar discos de jazz, mas sinto que em Portugal há cada vez menos gente a ir a concertos de jazz. Posso dizer isto porque presencio na primeira pessoa. Sinto isso igualmente quando vou assistir a concertos. O jazz é muita coisa, o jazz é muito abrangente e isso mete tudo no mesmo saco. Podemos achar que gostamos de jazz por ouvir Bill Evans em casa e quando vamos ao festival da nossa cidade à espera de ouvir aquele jazz e levamos com um trio ou septeto de músicos free, muitos deles com muito poucas competências técnicas e de domino do instrumento e de repente a ideia que tínhamos do jazz é destruída. Acho que estamos numa fase em que o que mais importa é a criatividade, o conceito e a mensagem social/politica. Claramente são aspetos importantes e a música pode ser usada como veículo para isso, mas a Música não é só isso. A magia da música, as horas passadas a sós com o instrumento na tentativa de o dominar em vez de ser ele a dominar-nos a nós, fizeram, fazem e farão parte do músico artista… não pode ser só músico, nem só artista. Na bateria, assim como em todos os instrumentos, estão sempre a aparecer novos talentos, cada pessoa e ser humano é um talento, depende tudo de como este usa as suas aptidões, como arquiteta a sua vida e como gere os seus sonhos.

Depois deste disco, quais são os teus próximos planos?

Depois destes concertos de lançamento os meus planos serão estar em casa com a minha filha de três anos a brincar ao “Gigante”, uma figura que eu e ela criamos, como sendo um monstro grande e horroroso e que acaba por se tornar amigo dela, levando-a para o seu castelo… É assim que vejo o meu futuro artístico, muitas ideias que parecem impossíveis de concretizar como se fossem um gigante invencível… mas aguardo o momento oportuno para que elas venham ter comigo para as levar avante. Concretamente, para além de inúmeras parcerias que vou tendo, e dos convites para projetos e residências, tenho em mente fazer um projeto tal como a revista: “ponto PT”. Um projeto 100% nacional. Ando há três anos a adiar outro projeto, em duo com um acordeonista português mega-talento e em plena ascensão internacional, mas não digo nomes [risos], em que teremos depois convidados… Agora que encerrei este capítulo do “Chromosome”, sei que o disco acabou de sair e devia dizer “agora que iniciei esta fase”, mas o mais trabalhoso é preparar tudo e por o disco cá fora, sempre na perspetiva disso se refletir em mais concertos e apresentações ao público. Infelizmente, nem sempre isso acontece, por isso, espero poder tocar o máximo possível com este projeto, mas o meu objetivo agora é começar a pensar no próximo projeto.

  

Agenda

04 Outubro

Carlos Azevedo Quarteto

Teatro Municipal de Vila Real - Vila Real

04 Outubro

Luís Vicente, John Dikeman, William Parker e Hamid Drake

Centro Cultural de Belém - Lisboa

04 Outubro

Orquestra Angrajazz com Jeffery Davis

Centro Cultural e de Congressos - Angra do Heroísmo

04 Outubro

Renee Rosnes Quintet

Centro Cultural e de Congressos - Angra do Heroísmo

05 Outubro

Peter Gabriel Duo

Chalé João Lúcio - Olhão

05 Outubro

Desidério Lázaro Trio

SMUP - Parede

05 Outubro

Themandus

Cine-Teatro de Estarreja - Estarreja

06 Outubro

Lucifer Pool Party

SMUP - Parede

06 Outubro

Marta Rodrigues Quinteto

Casa Cheia - Lisboa

06 Outubro

Ben Allison Trio

Centro Cultural e de Congressos - Angra do Heroísmo

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