Claire Bergerault / Jean-Luc Guionnet: “Mune” (Cathnor)
Cathnor
Este é o quarto registo em que Jean-Luc Guionnet explora as potencialidades sonoras de um órgão de igreja no contexto de música improvisada. Desta vez, a acompanhá-lo está a cantora Claire Bergerault.
Se Guionnet é bem conhecido no actual panorama da improvisação, já Bergerault é um nome pouco familiar, tendo anteriormente utilizado a sua voz no grupo L'Échelle de Mohs e num duo com Eric Brochard. A interacção entre os dois revela-se de forma excelente, e logo desde a primeira faixa do disco. Nesta, Guionnet extrai do órgão sons num registo predominantemente grave e que constrastam com os agudos da voz de Bergerault, proporcionando-lhe espaço para aplicar todo o seu vocabulário.
O também saxofonista deambula pelas teclas, provocando situações insólitas, intervaladas com aumentos súbitos de volume, enquanto outras vezes prolonga a intensidade sonora, exigindo ao ouvinte uma escuta atenta para não perder as subtis variações tímbricas que vão sendo geradas. Entretanto, a cantora executa ousadas variantes.
O segundo tema é o mais longo do CD, espraiando-se por 23 minutos de deleite sonoro. Ao longo da faixa, Bergerault acompanha e complementa as sonoridades do órgão, mantendo-se num registo contido. A música revela-se mais intimista e “reflexiva”, enquanto se gera uma calma tensão que o duo faz questão em suster.
A fechar, Bergerault começa por emitir prolongados susurros que se harmonizam com os contínuos do órgão, para depois soltar a voz num registo quase operático, impulsionando a música para inesperadas direcções. Surgem então as sempre atentas “respostas” de Jean-Luc Guionnet que, por sua vez, lança novos desafios à cantora, gerando-se no ouvinte a sensação de uma constante surpresa.
As inflexões produzidas são de uma naturalidade singular, complementando-se de modo a criar uma música encantatória.
-
Mune (Cathnor)
Claire Bergerault / Jean-Luc Guionnet
Claire Bergereault (voz); Jean-Luc Guionnet (órgão de igreja)