Hammered

Ches Smith and These Arches: “Hammered” (Clean Feed)

Clean Feed

António Branco

Quase três anos depois de um altamente estimulante “Finally Out of My Hands”, na Skirl Records, o baterista Ches Smith volta a reunir o seu projeto These Arches para um disco arrasador.

E isso em grande medida se fica a dever ao alargamento da formação de quarteto para quinteto, com a entrada de um peso pesado do jazz do nosso tempo: Tim Berne. Tudo por uma feliz conjugação de circunstâncias: devido a um conflito de agendas, Tony Malaby viu-se perante a impossibilidade de seguir em digressão com a formação. Para o seu lugar entrou Berne. Com Malaby de novo livre, Smith decidiu adaptar a música ao facto de ter dois sopros (e que sopros!) disponíveis.

No barco mantiveram-se a guitarrista Mary Halvorson e a acordeonista e manipuladora de eletrónica Andrea Parkins. Não só o leque sonoro se abriu com a entrada do saxofonista alto como a própria escrita de Smith evoluiu com base nessa premissa, revelando uma vertente mais contrapontística e a tirar maior partido do xadrez instrumental.

Em “Hammered” – por si só o título quer dizer muita coisa – Smith continua a explorar terreno que lhe tem sido fértil (Good for Cows, Congs for Brums, Secret Chiefs 3, Xiu Xiu): o do cruzamento criativo de elementos provenientes do jazz, da música improvisada e do rock de cariz mais experimental.

Muitas destas peças foram escritas para banda de rock, mas beneficiam claramente por estarem a ser tocadas por este notável grupo de mestres improvisadores. Energia, liberdade e urgência são ingredientes essenciais neste “cocktail” explosivo. Ainda que as rampas de lançamento estejam estruturadas, é evidente o ênfase colocado na improvisação coletiva, o que, com esta mão de obra, faz todo o sentido.

Baterista de largo espetro, Smith sabe ser o fogueiro que alimenta a fornalha para garantir a adequada propulsão, mas também o joalheiro dos finos detalhes. “Frisner” (referência ao baterista haitiano Frisner Augustin, antigo professor de Smith e falecido inesperadamente no início do ano passado) abre as hostilidades em alta rotação e dá o mote para o que vem depois. Impertinência rítmica, sopros em delicioso mano a mano, guitarra e eletrónica pontuando com inteligência esta dança garrida.

Na mesma linha vigorosa segue-se "Wilson Phillip”, homenagem a outro baterista, Phillip Wilson. Escrita para os Ceramic Dog de Marc Ribot, “Dead Battery” acentua as contribuições de Halvorson e Parkins, que se aliam à frente de sopros numa vertigem febril.

Na peça título todos os instrumentos se fundem numa massa caleidoscópica que recircula. Em contraste, “Limitations” é uma miniatura quase sussurrada e de “Learned from Jamie Stewart” (piscar de olho ao vocalista dos Xiu Xiu) brota um bem vindo “groove”. “This Might Be a Fade Out” fecha a refrega numa alternância entre caos e ordem, sobrevindo esta.

“Hammered” não deixa pedra sobre pedra. Excelente.

  • Hammered

    Hammered (Clean Feed)

    Ches Smith and These Arches

    Tim Berne (saxofone alto); Tony Malaby (saxofone tenor); Mary Halvorson (guitarra elétrica); Andrea Parkins (acordeão, eletrónica); Ches Smith (bateria)

Agenda

29 Setembro

Bruno Pernadas (solo)

SMUP - Parede

29 Setembro

Elisa Rodrigues “Até ao Sol”

Planetário de Marinha - Lisboa

29 Setembro

Jam Session com Fernando Brox

Porta-Jazz - Porto

29 Setembro

Marcos Ariel & Alê Damasceno

Cascais Jazz Club - Cascais

29 Setembro

Mr Monaco

Nisa’s Lounge - Algés

29 Setembro

Orquestra de Jazz de Espinho com Melissa Aldana

Auditório de Espinho - Espinho

29 Setembro

Rui Fernandes Quinteto

Jardim do Mercado - São Luís – Odemira

29 Setembro

The Selva

gnration - Braga

29 Setembro

Mário Barreiros Quarteto

Jardim do Mercado - São Luís – Odemira

30 Setembro

Clara Lacerda “Residencial Porta-Jazz”

Porta-Jazz - Porto

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