John Zorn: “The Mysteries” (Tzadik)
Tzadik
Na imensa produção zorniana tem havido altos e baixos constantes, o que é natural para quem edita um disco de seis em seis meses (ou assim parece). “The Mysteries” é o último (por pouco tempo certamente) e retrata a escrita açucarada de John Zorn, tocada por um trio de harpa, guitarra e vibrafone.
Esta é a segunda aparição deste grupo (depois de “The Gnostic Preludes”, de 2012) cujo som se mistura de uma forma quase perfeita: as duas cordas juntas quase mimetizam a doçura da celesta e Wollesen, com o metal do vibrafone e do carrilhão de sinos, confunde-se com a guitarra eléctrica.
Zorn puxa dos seus galões melódicos e fornece temas de uma beleza exagerada, dulcíssimos, na melhor tradição musical judaica americana. O que consegue dar uma beleza interessante a estes temas é a sua instabilidade (também na melhor tradição musical judaica americana): o lirismo está sempre em mutação e os temas dão origem a novas variações, subtemas, num discurso que constantemente apresenta novidades e não nos deixa tranquilamente instalados num sofá de melodias repetidas “ad nauseum”.
O disco é feito por três excelentes executantes, mas se as músicas são belíssimas e imaculadamente tocadas, as improvisações são só correctas, pacatas e tranquilamente modais.
John Zorn é uma figura incontornável do jazz americano, não só por alguns projectos marcantes (Naked City, Cobra, etc.), mas também por ter somado à grande tradição negra do jazz a música judaica, que lhe continua a servir de fonte criativa.
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The Mysteries (Tzadik)
John Zorn
Carol Emanuel (harpa); Bill Frisell (guitarra); Kenny Wollesen (vibrafone, sinos)