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Travis & Fripp: “Follow” (Panegyric)

Panegyric

Gonçalo Falcão

Robert Fripp é um dos guitarristas que mais admiro. Criou um mundo novo para a guitarra eléctrica aperfeiçoando o ataque, a digitação e o som e criando uma linguagem feita de repetições e de figuras geométricas no braço da guitarra. Ouço-o ainda com imenso prazer, descobrindo sempre uma música apaixonante e inovadora.

A sua personalidade complicada e uma postura deontológica muito rigorosa e intransigente levaram-no a não conseguir o reconhecimento que merecia: não fosse assim e hoje os King Crimson ocupariam o lugar dos Pink Floyd na história da música popular. Mas foi.

O seu trabalho fora dos Crimson nem sempre é magnífico, mas tem discos incontornáveis na história do pop-rock como “No Pussyfooting”, de 1973, com Brian Eno, e outras obras fantásticas como “The League of Crafty Guitarrists”, “Exposure” ou “Under Heavy Manners”.

Com a reactivação dos King Crimson (1995) começou a explorar a improvisação no contexto do rock, criando no momento música irrepetível. A banda desenvolveu uma aproximação completamente diferente à música que fazia, mantendo a energia e a pulsação do rock, mas fazendo de cada concerto ou gravação um discurso único. O jazz-rock abordado por outro ângulo.

A ligação ao saxofonista e flautista Theo Travis na fórmula Travis & Fripp surge desta vontade criativa – improvisação total, jazzística – e da procura de ares menos ritmados, mais abstractos, o que seria difícil com a bateria de Bill Brufford ou o baixo de Tony Levin. Travis é um compositor e improvisador londrino com uma carreira discográfica sem relevância e muito ligada ao jazz ambiental (Anja Garbarek, Palle Mikkelborg, etc).

Apesar do som frippiano da guitarra, a audição de “Follow” é enjoativa e chega até a ser saloia, cheia de enchimentos cósmicos eternos, figuras afectadas e chilreadas na flauta e composições etno-medievais: resulta um ambiente de mau gosto e capricho como só dois ingleses conseguem. É como entrar numa sessão amadora de declamadores de poesia revolucionária (e se há músico profissional é Fripp) ou ver Paulo Cardoso num programa televisivo da manhã.

Mesmo deitando fora os quatro primeiros temas, de vautêntico suplício, e ouvindo o disco a partir de “1979”, com a sua evocação “frippertronics”, a tarefa de achar beleza não é fácil: a flauta afectada de Travis entra e magoa de tão sensível.

O problema deste duo é claramente Theo Travis: é difícil perceber o que é que Robert Fripp terá ouvido nele para o deixar entrar assim pela sua música adentro e causar tantos danos.

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    Follow (Panegyric)

    Travis & Fripp

    Theo Travis (saxofones tenor e soprano); Robert Fripp (guitarra eléctrica)

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