Diogo Vida: “Próxima Estação” (Sintoma Records)
Sintoma Records
Em 2011, Diogo Vida deu nas vistas com um disco de estreia muito recomendável. Dois anos após “Alegria”, em quarteto, o pianista reduz o efetivo para trio e não se limita a confirmar os predicados nele atestados, antes amplia-os, consolidando a sua posição, por direito próprio, na primeira linha do pianismo jazzístico nacional.
Dissecando “Alegria”, escrevi que, perante peças como “2nd Sight”, timbricamente frondosa, seria natural que houvesse uma evolução no sentido da aposta na escrita para formações mais alargadas. Mas foi precisamente uma manobra em sentido inverso que se veio a verificar, com o pianista a empreender um exercício de focagem no fundamental. Em “Próxima Estação”, o seu segundo disco na condição de líder, Vida prescinde de todo e qualquer instrumento de sopro e entrega-se à pitagórica geometria do trio piano-contrabaixo-bateria, que, amiúde – talvez mais até do que o solo – funciona como “tira-teimas” da relevância artística de um pianista de jazz.
O músico lisboeta – mas com parte substancial da sua formação feita no Porto – é acompanhado por João Custódio no contrabaixo e Jorge Moniz na bateria, ressaltando evidente a ligação a traço grosso que se estabelece entre os três vértices deste triângulo sonoro, vertida em altos níveis de empatia e interação. O seu pianismo, bem nutrido em termos técnicos e solidamente fundado na tradição jazzística, destila um virtuosismo consequente e hábil na reciclagem criativa dessas referências.
Custódio é um contrabaixista sólido e afirmativo, que sabe agir e reagir em conformidade. Baterista de vastos recursos, Moniz é garante de propulsão adequada, eficiente tanto a expor-se como a guardar recato.
Apesar de o pianista continuar a exibir uma abordagem permeável a outras músicas, o formato fá-lo recentrar as atenções no cânone, reservando alguns dos filões explorados no disco anterior. Por exemplo, muita da “portugalidade” que algumas peças exalavam não encontra aqui paralelo, exceção feita a “Madragoa”, banhada por uma reconfortante luz atlântica.
O disco abre com o dinamismo frenético de “Próxima Estación Prosperidad” (onde o pianista dá azo à sua notável mão esquerda), que encontra coerente prolongamento num movimentado “Aeroport”. “Quarta e Quinta” denota uma abordagem mais angulosa e em “Punchline” é detetável um travo fortemente “monkiano”. Um dos cumes de interesse do CD atinge-se em “Sombras”, com a sua belíssima, mas nada óbvia, melodia. A convidada Selma Uamusse empresta um brilho especial a “Estaciones”. “Ending Song” é a pérola de dois minutos que remata o disco em tons otimistas.
Resta-nos aguardar qual será a “próxima estação” na linha de um músico cujo talento justifica fasquia alta e atenção redobrada.
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Próxima Estação (Sintoma Records)
Diogo Vida
Diogo Vida (piano); João Custódio (contrabaixo); Jorge Moniz (bateria) + Selma Uamusse (voz)