L. A. New Mainstream

L.A. New Mainstream: “L.A. New Mainstream” (Sintoma Records)

Sintoma Records

António Branco

Desde que aportou em terras lusas no início deste milénio, Lars Arens tem vindo a cimentar a sua posição no meio jazzístico nacional. Originário da cidade de Münster, na Alemanha, licenciou-se em Amesterdão e um dia disse adeus ao país das túlipas, estabelecendo-se em Portugal. Desde então, tem desenvolvido a sua intensa atividade em várias contextos, como instrumentista, compositor, arranjador e docente.

À frente dos seus vários projetos – começando pelo mais emblemático de todos, a caleidoscópica Tora Tora Big Band, mas também com os L. A. Jumping Pulgas e os L. A. New Mainstream –, tem revelado uma notável capacidade para fazer confluir influências múltiplas (do jazz ao funk, passando pelas músicas da América Latina e das Caraíbas), arquitetando uma música fluida e com assinatura própria, temperada por condimentos “groovy” e um vigor rítmico assinalável.

Arens segue um “modus operandi” de cariz muito “ellingtoniano”, na medida em que significativamente influenciado pelas características dos músicos que tem à sua disposição e que bem conhece. Para este registo inaugural dos L. A. New Mainstream – na cada vez mais incontornável Sintoma Records –, faz-se rodear por cinco músicos que integram o escol de uma nova geração de “jazzmen” portugueses: para além do saxofonista Desidério Lázaro, que, com o líder, integra a frente de sopros, uma secção rítmica constituída por Daniel Bernardes (piano), André Santos (guitarra), António Quintino (contrabaixo) e Joel Silva (bateria).

As suas composições e arranjos, para grupos de dimensão grande ou intermédia – estruturalmente rigorosos e muito disciplinados –, apresentam distintas componentes macro e micro que, convenhamos, nada têm de germânico ou de flamengo: a sua música é solar, física e enérgica. Aliás, as formações de Arens – e esta não é exceção – surgem como laboratórios de experimentação sonora, onde se testam diferentes abordagens e texturas, se interligam contribuições e se definem estratégias grupais.

No quadro deste sistemático labor, quase científico, o líder revela todo o cuidado que coloca na gestão dos equilíbrios entre o coletivo e o individual, deixando margem para os músicos poderem afirmar as suas personalidades e contribuírem para que o todo supere a mera soma das partes. Os dois sopros, suportados por um bloco rítmico eficiente e compacto, destilam potentes “riffs” e uníssonos – dos quais emanam diversas intervenções solistas de valia.

Do arranjo garrido de “A Malha Rodrigues” solta-se um solo pujante do saxofonista, que atravessa um verdadeiro estado de graça. “Mechanics” assenta num vivo mano a mano entre os sopros, envolto num “swing” luminoso. Segue-se a tranquilidade luxuriante de “Porquê”, com Arens, mais uma vez, em ótimo plano.

Também “O Pato do Einstein” exibe um dinamismo irresistível, com o pianista a sustentar harmonicamente as hostes, o líder notável (utilizando surdina) e doses controladas de eletricidade injetadas pelo guitarrista. “Ganz Heimlich, Still und Leise”, com a sua atmosfera solenemente noturna, funciona como contraste em relação à maioria das restantes composições. Esta é a composição lua do disco.  A fechar, “Double Bass Base” vai ao encontro do que o título já vai adiantando: é o sólido contrabaixo de Quintino (outro nome em claro processo de afirmação) que dá o mote para uma peça em que trombonista e guitarrista estão, mais uma vez, em evidência.

Um disco vibrante e colorido que constitui mais uma prova, se necessária fosse, da relevância do trabalho de Lars Arens e de outros músicos que são parte integrante de um período de ouro do jazz em Portugal.

  • L. A. New Mainstream

    L. A. New Mainstream (Sintoma Records)

    L. A. New Mainstream

    Lars Arens (trombone); Desidério Lázaro (saxofone tenor); Daniel Bernardes (piano); André Santos (guitarra elétrica); António Quintino (contrabaixo); Joel Silva (bateria)

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