Red Trio: “Rebento” (NoBusiness)
NoBusiness
Dos três discos que tinha editados, só o debutante nos mostrou o Red Trio enquanto tal, um trio. Os outros tiveram um quarto elemento como convidado, primeiro John Butcher e depois Nate Wooley. Também nos palcos era habitual que o projecto se apresentasse não tal como nasceu, mas em versão “extended”, fosse com aqueles músicos como com outros, a saber Jason Stein, Eitr (a unidade de trabalho constituída por Pedro Sousa e Pedro Lopes) e, mais recentemente, Per Gardin.
Se Rodrigo Pinheiro, Hernâni Faustino e Gabriel Ferrandini partiram para essas colaborações com uma postura de grupo suficientemente sólida para justificar o reiterado formato 3+1, o certo é que a identidade autónoma do trio se sujeitava a sofrer erosões. Até porque estas eram bem-vindas, de acordo com a filosofia de abertura dos portugueses a quaisquer influências.
Em boa hora surge, pois, este “Rebento”, registado em estúdio apenas com os três elementos originais. Se bem que não pudesse ser mais diferente do que o álbum homónimo do início, o que nele encontramos é o Red Trio em todo o seu fulgor, e não o que resultava dos diálogos com personalidades criativas muito fortes e, em consequência, determinadoras de direcções específicas a seguir. Se dúvidas pudessem haver sobre o que é efectivamente, depois destes anos, o Red Trio, aqui está esse “statement”.
E o que aqui vem é de uma excelência que surpreende, mesmo tendo em conta que a formação nos habituou a elevados níveis de qualidade. A música é intensa e dramática, mas dispõe de uma transparência, de uma atenção aos espaços e às dinâmicas, que nos permite, enquanto ouvintes, entrar confortavelmente nela e habitá-la. Inclusive, emana de cada peça uma naturalidade, uma ingenuidade no bom sentido, que chega a ser desconcertante. Não há truques discursivos ou estratégias de envolvimento, apenas a verdade de uma total entrega colectiva ao som.
É como se Pinheiro, Faustino e Ferrandini estivessem a redescobrir-se a si mesmos, individualmente e em termos de efeito conjunto. Sem medos, mas também sem assunções apriorísticas. O que ouvimos é uma combinatória de forças contraditórias – os agudos do piano, aquelas tais notas que parecem vidro a partir-se tão distintivas do estilo pessoal de Rodrigo Pinheiro, elevam-nos às alturas, mas por baixo está o contrabaixo de Hernâni Faustino com as suas vibrações minerais. A bateria, essa, une céu e terra com, em muitos casos, uma parcimónia de elementos que desfaz a ideia de Gabriel Ferrandini ser um percussionista excessivo.
É, por conseguinte, sem hesitações que digo que o Red Trio, com este CD, se confirma como um dos mais fascinantes trios de piano da actualidade em todo o mundo onde se pratica isso a que se chama “música improvisada”. Dificilmente se pode esperar algo de melhor do que isto…
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Rebento (NoBusiness)
Red Trio
Rodrigo Pinheiro (piano); Hernâni Faustino (contrabaixo); Gabriel Ferrandini (bateria)