Whatever it is You're Seeking, Won't Come in the Form You're Expecting

João Hasselberg: “Whatever it is You're Seeking, Won't Come in the Form You're Expecting” (Sintoma Records)

Sintoma Records

António Branco

“Whatever it is You're Seeking, Won't Come in the Form You're Expecting” é o disco de estreia na condição de líder de João Hasselberg, músico que se tem dividido por diversos projetos, em múltiplos contextos estéticos, o que lhe confere maturidade e experiência assinaláveis.

Se já lhe conhecíamos atributos enquanto instrumentista de amplos recursos, tomamos agora contacto mais profundo com a sua vertente de compositor inspirado. O disco compila música composta ao longo de um ano e que resulta do processamento de leituras que foi entretanto fazendo, do que ficou na pós-leitura (o próprio título é uma citação retirada de “Kafka à Beira-Mar”, livro do japonês Haruki Murakami). Hasselberg tenta recriar as sensações vividas enquanto leitor, o que ajuda a fazer luz sobre o contraste das peças incluídas no programa.

Não escreveu para cinema, mas acaba por concretizar esse desejo latente em algumas das composições, que assumem um evidente cunho cinematográfico, sendo possível a quem escuta construir mentalmente as imagens ausentes. Concorre para esta dimensão visual o trabalho gráfico de Camila Beirão dos Reis, que traz à memória o trabalho seminal do escultor Jorge Vieira.

Na escrita de Hasselberg, de apurado sentido melódico, confluem referências que espelham uma mente criativa e de horizontes largos, que combina o rigor da linguagem do jazz com a elegância e a sofisticação de uma certa pop, à mistura com elementos derivados da música clássica. Fugindo a compartimentações estanques, ressalta claro que entende a música como um todo, posicionando-se como alguém capaz de integrar esse todo e de se moldar ecleticamente.

Tem ainda a felicidade de se fazer acompanhar por alguns dos músicos com quem mais gosta de trabalhar, de diferentes gerações e níveis de reconhecimento no panorama do jazz nacional: o pianista Luís Figueiredo, o saxofonista Ricardo Toscano, o trompetista Diogo Duque, os guitarristas Afonso Pais e João Firmino, o baterista Bruno Pedroso e a cantora Joana Espadinha. A interação que resultou desta assembleia acabou por ser uma surpresa para o próprio líder, fazendo jus ao título do disco.

O grupo que a gravou nunca tocou esta música ao vivo, apesar de alguns dos temas terem sido anteriormente rodados pelo trio do pianista grego Spyros Manesis, que Hasselberg integra. O disco abre com o solene “In Cold Blood”, de onde ressalta a sonoridade transparente do trompete de Duque – músico em claro processo ascensional – a pairar sobre uma teia urdida por guitarra (Firmino) e baixo elétrico.

Outro momento alto é “To a God Unknown” com o seu perfume folk (guitarra e Hammond) e a voz etérea de Joana Espadinha acolitada pela serenidade do trompete. Também “The Old Man and the Sea” surge aqui numa belíssima versão em trio piano-contrabaixo-bateria, bem diferente da incluída no disco “A Casa da Árvore”, de João Firmino.

Notável a versão arranjada para contrabaixo solo de “The Folks Who Live on the Hill”, tema escrito por Jerome Kern em 1937 (o único que não é assinado por Hasselberg). Nota especial para as harmonias mais angulosas de “Wild Sheep Chase” e “On the Road”, ambas marcadas indelevelmente por um Ricardo Toscano em estado de graça e pelas texturas desenvolvidas por Bruno Pedroso, prenhes de detalhes.

João Hasselberg assina um excelente disco inaugural e sobe a fasquia para o que vier a seguir.

  • Whatever it is You're Seeking, Won't Come in the Form You're Expecting

    Whatever it is You're Seeking, Won't Come in the Form You're Expecting (Sintoma Records)

    João Hasselberg

    João Hasselberg (contrabaixo, baixo elétrico); Luís Figueiredo (piano, órgão Hammond); Bruno Pedroso (bateria) + Ricardo Toscano (saxofone alto); Diogo Duque (trompete); Afonso Pais, João Firmino (guitarra elétrica); Joana Espadinha (voz)

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