Ausente

Pedro Neves: “Ausente” (Carimbo Porta-Jazz)

Carimbo Porta-Jazz

António Branco

Ao sétimo lançamento, a editora Carimbo Porta-Jazz – braço editorial da crescentemente ativa Associação Porta-Jazz – tem vindo a ser responsável por incrementar a visibilidade de um punhado de músicos de qualidade que, de outra forma, veriam a sua atividade injustamente confinada à zona do Grande Porto.

O exemplo mais recente é o pianista portuense Pedro Neves (n. 1978), músico que tem vindo a desenvolver a sua atividade em vários projetos, sendo de destacar o liderado pela baterista Lucía Martínez, com quem gravou “Soños e Delirios” em 2007, ano em que também terminou a sua licenciatura em Piano Jazz na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo (ESMAE).

À frente do seu trio, apresenta agora o registo de estreia, no qual dá a conhecer o trabalho que tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos juntamente com o contrabaixista Miguel Ângelo e o baterista Leandro Leonet (esta uma colaboração que remonta a 2003, quando Neves fundou o seu primeiro trio, Pé Descalço). E percebe-se que esse labor frutificou, ficando clara a cumplicidade que se estabelece entre os três músicos, que parecem partilhar uma visão similar da abordagem ao idioma jazzístico – a trave mestra que suporta as composições – e a uma das suas excelsas fórmulas, a do trio piano-contrabaixo-bateria.

A música que se escuta em “Ausente” – excetuando duas, todas as composições são do líder – remete para um jazz de matriz europeia, que em alguns casos evoca paisagens sonoras não muito distantes das sugeridas por pianistas nórdicos habitualmente associados ao tão propalado “som ECM”, com clara apetência para os tempos médios e lentos, melodicamente nutridos.

Neves exibe uma escrita madura, revelando conhecimento do género e do formato, que corporiza num pianismo luminoso. Na peça-título, a mais longa do disco e a que o enceta, fica no ar a sensação de que a música foi composta como se se tratasse da banda sonora de um filme imaginário.

A atmosfera amena de “Cinco Almofadas” suporta-se no contrabaixo afirmativo, mostrando que Miguel Ângelo não resume as suas funções às de mero acompanhador, antes assumindo um papel central nas construções sonoras do trio. “Casa do Santa” é uma balada canónica com todos os seus pertences, incluindo as delicadas escovas do assertivo Leonet. “Sete Palmos” fica na memória pela interessante teia melódica urdida.

A interação entre os três músicos logra os píncaros no dinamismo consequente de “A Bonança Pode Esperar” e “Lady Bug”. “Aifos” (anagrama de Sofia) é outro bom momento – uma das duas peças da autoria de Miguel Ângelo –, decisivamente marcada pela musicalidade deste. A outra é “Tramal”, aqui numa leitura diferente da incluída em “Branco”, o conseguido álbum de estreia do contrabaixista em nome próprio. O ciclo da ausência encerra em tom otimista com o belíssimo “Presente”.

Talvez uma pitada adicional de risco apaladasse um pouco mais o resultado final, o que não ensombra a conseguida estreia de um pianista com potencial e a que importa prestar atenção no futuro.

  • Ausente

    Ausente (Carimbo Porta-Jazz)

    Pedro Neves

    Pedro Neves (piano); Miguel Ângelo (contrabaixo); Leandro Leonet (bateria)

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