Paul Bley: “Play Blue” (ECM)
Nesta gravação ao vivo datada de 2008, aquele que é uma das mais reverenciadas figuras da história do jazz mergulha por inteiro no espólio do piano deste género musical (e sim, chegando às raízes dos blues, tal como o título promete) para o converter num fresco de contemporaneidade transgressiva, jogando forma com liberdade, composição com improvisação e requinte com expressão. Paul Bley está identificado com a emergência do free, mas não é isso o que encontramos aqui: esta música ignora tendências e correntes, ou melhor, atravessa-as.
É por isso que ouvimos ecos do “som” de New Orleans (em “Way Down South Suite”) e que o ouvimos a interpretar um tema de Sonny Rollins (“Pent-Up House”), mas essas referências convivem com outras de sinal bem diferente, como as muitas referências eruditas do século XX que vão surgindo ao longo do disco e uma propensão muito própria para pegar num motivo e o decompor, conseguindo que esse processo niilístico pareça um acto poético, e não sem uma boa dose de lirismo. Já para não falar numa das suas imagens de marca: nunca se consegue prever que sons vai introduzir de seguida, apenas que serão os menos óbvios na sequência de uma ideia musical. Bley do melhor, sem dúvida.