Clocks and Clouds

Luís Vicente / Rodrigo Pinheiro / Hernâni Faustino / Marco Franco: “Clocks and Clouds” (FMR)

FMR

Rui Eduardo Paes

Os instrumentistas que integram o quarteto já conhecido no circuito dos concertos por Clocks & Clouds não podiam ter percursos mais distintos, apesar de todos estarem activos na sua franja mais criativa.

Luís Vicente tem firmado o seu nome em abordagens que vão do world jazz (Luís Vicente Trio) à improvisação electroacústica (duo com Jari Marjamaki), parecendo um Don Cherry do século XXI. Influenciado tanto por compositores eruditos como Ligeti e Messiaen como por Thelonious Monk e Cecil Taylor, Rodrigo Pinheiro tornou-se num dos mais cativantes pianistas portugueses. O sucesso internacional do mutante Red Trio deve-lhe boa parte da responsabilidade.

Inserido nesse mesmo projecto, e com Pinheiro estando igualmente no trio com Lotte Anker, Hernâni Faustino toca o mais imediatista e enérgico contrabaixo da cena, com uma abordagem crua e rude que se expõe especialmente nos Falaise. Por fim, encontramos o baterista Marco Franco em formações que atravessam todo o espectro da improvisação nacional, indo do “mainstream” (Rui Caetano Trio) e do lounge-jazz dos Mikado Lab à célula percussiva Tim Tim por Tim Tum e ao experimentalismo das suas colaborações com Nuno Rebelo.

Ora, o que logo surpreende em “Clocks and Clouds” é a empatia, a cola que encontramos na música. Esta não é simplesmente uma parceria de quatro músicos, mas um grupo com um som colectivo. Como não podia deixar de ser, cada uma das visões pessoais dos seus integrantes reflecte-se no resultado final, mas há algo mais e que não funciona apenas como um mínimo denominador comum dessas muitas particularidades.

O ouvinte é de imediato levado a atentar mais nas interacções e nos jogos inter-individuais, sendo isso, precisamente, o que mais importa num contexto de música improvisada. Tudo o que se ouve neste disco é espontaneamente composto no momento da execução, mas esta opção metodológica não chega a ganhar um cunho estético. A estética abraçada é, muito claramente, a do jazz. Nesse aspecto, há coincidências com as fórmulas do free jazz, mas dificilmente poderíamos identificar como tal o que aqui vem.

Também não serve o epíteto “pós-free jazz” para dar uma ideia do que se trata. Simplesmente, porque o que está em causa parece ser um regresso às raízes do género, e tanto um regresso à estrutura, ainda que por via improvisacional, como à forma, em termos de linguagem. É como se o jazz estivesse a ser reinventado, minuto a minuto. Quando nesta área vamos observando tentativas de partir do jazz para outros desenlaces, o que “Clocks and Clouds” propõe é o caminho inverso.

A tarefa é desempenhada com um brilho e uma entrega verdadeiramente surpreendentes, o que faz deste CD uma edição incontornável. Diria mesmo mais: um marco.

  • Clocks and Clouds

    Clocks and Clouds (FMR)

    Luís Vicente / Rodrigo Pinheiro / Hernâni Faustino / Marco Franco

    Luís Vicente (trompete); Rodrigo Pinheiro (piano); Hernâni Faustino (contrabaixo); Marco Franco (bateria)

Agenda

28 Março

Daniel Levin e Samuel Ber / Biliana Voutchkova e Luka Toyboy

Sonoscopia - Porto

28 Março

Savina Yannatou, Julius Gabriel, Agusti Fernández, Barry Guy e Ramon López

Porta-Jazz - Porto

30 Março

Johannes Gammelgaard

Café Dias - Lisboa

30 Março

Pedro Branco e João Sousa “Old Mountain”

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

30 Março

Marmota

Casa Cheia - Lisboa

30 Março

Filipe Raposo e Uriel Herman “Dois pianos, um universo”

Centro Cultural de Belém - Lisboa

30 Março

Inês Camacho

Cossoul - Lisboa

30 Março

Abyss Mirrors Unit

ZDB - Lisboa

30 Março

Daniel Levin, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro

Biblioteca Municipal do Barreiro - Barreiro

31 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

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