Nuno Costa: “Detox” (edição de autor)
Edição de autor
No terceiro disco de Nuno Costa ficamos com a sensação de que tudo gira em volta das canções: a preocupação central é a de fazer bons temas, com uma escrita bonita, elegante, actual. O guitarrista consegue-o, pois as sete faixas do álbum são muito bem tocadas, por um grupo tecnicamente evoluído e com um óptimo som conjunto. Além disso, a forma como arranja e distribui a escrita pelos instrumentos salienta as qualidades individuais.
Costa toca guitarra de uma forma seca, muito distante do fraseado fluido e deslizante de Pat Metheny, com quem frequentemente tem sido referenciado. Não consigo ainda identificar uma voz própria, reconhecível, tanto na execução e nos solos como na composição. Tudo soa bem mas genérico, aprumado mas comum.
A escrita usa fórmulas contemporâneas e sofisticadas, mas não consegue criar laços de simpatia com o ouvinte. Não são facilmente cantáveis, nem emocionais (espirituais, ambientais), nem tão pouco admiravelmente complexos. Ouvem-se com prazer pela variedade e pela coerência das soluções melódicas, mas não chegam a deixar marcas nem admiração. Mostram um músico maduro e completo, pois escreve e toca de forma impecável, mas está fechado num mundo extremamente controlado e seguro, que não admite caminhos imprevistos ou companheiros musicais ilógicos.
Este é um mundo sobrelotado de músicos com a mesma proficiência e que chegaram ao mesmo destino: sabem fazer, mas não passam para além do fazer. “Detox” soa um pouco como a sua capa: uma fotografia de uma casa de bonecas, daquelas que não são para as crianças brincarem, mas apenas para mostrar a minúcia e a paciência do adulto que a constrói.
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Detox (Edição de autor)
Nuno Costa
Nuno Costa (guitarra eléctrica); João Moreira (trompete); João Guimarães (saxofone alto); Óscar Marcelino da Graça (piano); Bernardo Moreira (contrabaixo); André Sousa Machado (bateria)