Chamber 4: “Live at Ler Devagar | Lx Factory | Lisbon” (FMR)
Luís Vicente, Théo Ceccaldi, Valentin Ceccaldi… Ao quarto nome do grupo, o de Marcelo dos Reis, é que percebemos que este não é um disco do quarteto Deux Maisons, mas um outro projecto. Em vez de uma bateria, a de Marco Franco, está uma guitarra, acústica e, por vezes, preparada. Estas são duas diferenças entre várias, sendo a mais determinante para os desenlaces que vamos ouvindo a opção pela música de câmara. Improvisada e contemporânea, decerto, mas de câmara. A abordagem é outra, mais detalhística, mais contemplativa, mais intimista. Este outro encontro de músicos portugueses e franceses foi gravado em concerto à beira do Tejo, na galeria de arte da Ler Devagar, o que quer dizer que ouvimos a música e o espaço, a música no espaço, o espaço na música.
E sim, trata-se de improvisação exploratória. Aplicam-se por aqui técnicas extensivas, com relevo para o trabalho desenvolvido pelo guitarrista Marcelo dos Reis, mas o tonalismo e a melodia são bem recebidos e integrados. Aliás, atravessa todo o álbum um sabor “clássico” (erudito, se quiserem) que nos faz remontar até ao romantismo e mesmo mais atrás. Nem sempre, porém: momentos há em que o tipo de intensidade e “drive” do jazz acaba por emergir. Grande parte da responsabilidade desta combustão lenta depende dos préstimos de Valentin Ceccaldi e dos Reis, o primeiro por via de “drones” de sustentação e o outro criando curiosos pontilhismos unificadores. Por cima e no meio estão os solistas em trompete e violino, com um Luís Vicente mais lírico do que nunca e um Théo Ceccaldi que só peca por não se retirar de quando em vez, deixando que a música respire.