Nicolas Letman-Burtinovic: “Closeness Duets” (Petit Label)

Rui Eduardo Paes

Tem tocado no quarteto de Archie Shepp, mas ainda é um nome a descobrir. Radicado em Nova Iorque e com origem francesa, Nicolas Letman-Burtinovic é um contrabaixista apostado em que cada realização sua, ao vivo ou em disco, seja uma «uma experiência de mudança de vida». O que quer dizer que, sem nunca romper com a tradição do jazz, faz questão de ter um relacionamento exploratório com o contrabaixo e a música que cria. “Closeness Duets” é a sua mais recente edição, surgindo esta como o resultado dos encontros a dois que manteve com a cantora Kyoko Kitamura, o multi-instrumentista Daniel Carter (clarinete, saxofones, flauta, trompete) e um segundo contrabaixista, Nick Jozwiak. Mas ainda que todos os conteúdos do álbum tenham sido registados em concerto, surgem montados num alinhamento estruturante que se equivale ao de uma suite. Ou seja, o improvisado toma na sua conjugação o carácter de uma composição global.

As peças são muito curtas, a mais breve estando nos 26 segundos e a mais longa não ultrapassando os 2’45’’, e isso significa que as situações estão sempre a mudar, criando uma dinâmica tão agitada quanto fragmentária. Dito assim pode parecer que a música tocada peca por falta de desenvolvimento, mas o curioso neste trabalho de “corta-e-cola” é o facto de muito depressa se estabelecer uma unidade, no sentido em que uma coisa leva mais adiante a outra numa implicação natural, por mais interferências que surjam pelo meio. Quando, em território da música improvisada, há tanto labor de pós-produção, algumas interessantes questões se levantam. Há quem sustente que o que foi improvisado deve ficar numa gravação tal como está, em bruto, sem qualquer tratamento, e quem entenda que esse mesmo tipo de material providencia o estabelecimento de uma derradeira, posterior, organização musical. Letman-Burtinovic mantém intacta a crueza da espontaneidade criativa e a partir daí define um conceito e uma forma profundamente transformadores. Eis um curioso lançamento, apelando a uma audição atenta.

Agenda

28 Março

Daniel Levin e Samuel Ber / Biliana Voutchkova e Luka Toyboy

Sonoscopia - Porto

28 Março

Savina Yannatou, Julius Gabriel, Agusti Fernández, Barry Guy e Ramon López

Porta-Jazz - Porto

30 Março

Johannes Gammelgaard

Café Dias - Lisboa

30 Março

Pedro Branco e João Sousa “Old Mountain”

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

30 Março

Marmota

Casa Cheia - Lisboa

30 Março

Filipe Raposo e Uriel Herman “Dois pianos, um universo”

Centro Cultural de Belém - Lisboa

30 Março

Inês Camacho

Cossoul - Lisboa

30 Março

Abyss Mirrors Unit

ZDB - Lisboa

30 Março

Daniel Levin, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro

Biblioteca Municipal do Barreiro - Barreiro

31 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

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