Szilárd Mezei / Nicola Guazzaloca: “Lucca and Bologna Concerts” (Amirani)

Rui Eduardo Paes

Nicola Guazzaloca é um dos mais surpreendentes pianistas da improvisação europeia. Esteve em Portugal há umas semanas, para uma participação no MIA – Encontro de Música Improvisada de Atouguia da Baleia e para gravar um disco com Carlos “Zíngaro”, Alvaro Rosso e João Pedro Viegas, no rescaldo ainda do lançamento deste álbum em parceria com o violetista e violinista sérvio, de ascendência húngara, Szilárd Mezei. Nestes registos ao vivo de concertos realizados em Lucca e Bolonha encontramos os reflexos do pensamento de Ivan Illich, filósofo libertário que influenciou os conceitos de educação da Scuola Popolare di Música Ivan Illich, de que Guazzaloca é o coordenador. Os espaços e transparências das oito improvisações parecem transpor as seguintes palavras: «Implica mais tempo e delicadeza aprender o silêncio de um povo do que aprender os seus sons. O que explica, talvez, porque é que alguns missionários, apesar dos esforços que fazem, nunca conseguem comunicar por meio dos seus silêncios. Mesmo que falem com a pronúncia dos nativos ficam a muitas milhas deles. A aprendizagem da gramática do silêncio é uma arte muito mais difícil de assimilar do que a gramática dos sons.»

É isso que se detecta desde logo neste belíssimo disco – mesmo quando Nicola Guazzaloca nos lança “clusters” de notas, ouvimos estes a surgirem do silêncio e a voltarem a ele. E quando este antigo aluno de Muhall Richard Abrams e o seu parceiro de ocasião focam as atenções numa exploração concretista do piano e da viola, muitas vezes recorrendo a preparações, paira por estes temas a noção de que não há música sem silêncio, de que antes da música há o som e de que este, para ser plenamente vivenciado, precisa de ter como referência não outros sons, não o ruído que nos envolve, e muito menos outras músicas, mas o silêncio. Sim, as influências cruzadas de certos elementos do jazz, da erudita contemporânea e das tradições populares centro-europeias são evidentes, mas o momento da sua enunciação é também o da sua ultrapassagem, dando origem a algo de inclassificável. O que fica é expressão num raro estado de pureza, uma expressão introspectiva e exploratória que vai da abstracção ao figurativismo com a maior das naturalidades. Ora, quanto mais pura é a expressão, mais puro é o prazer auditivo.

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