Dominique Pifarély Quartet: “Tracé Provisoire” (ECM)
Depois de um disco a solo (“Time Before and Time After”) que ficou para os anais da história do violino “jazz”, Dominique Pifarély continua o seu périplo pela ECM com uma edição em que surge no mais convencional dos agrupamentos deste género musical, o quarteto com secção rítmica formada por piano (Antonin Rayon, com quem o violinista privou na banda de Marc Ducret e que é mais conhecido como organista), contrabaixo (Bruno Chevillon, seu ilustre parceiro junto de Louis Sclavis) e bateria (François Merville, ex-membro do Ensemble Intercontemporain e colaborador de Pierre Boulez, que conheceu também quando tocou com Sclavis). Um quarteto que, se aqui e ali carrega no factor swingante do jazz, tem – como é hábito deste músico que tem publicado um trabalho em duo com Carlos “Zíngaro” – como parâmetros a improvisação livre e a música erudita contemporânea. Elementos vindos de um e do outro lado dão, aliás, corpo ao que neste álbum está em causa: combinar o improvisado e o composto de formas menos óbvias, com clara preferência pelo primeiro factor.
É assim que, se Pifarély já há muito demonstrou ser um compositor tão competente, ou quase, quanto é um instrumentista fora de série, a sua “escrita” fica-se neste “Tracé Provisoire” (o título diz tudo) pela criação de estruturas e de motivos, uns e outros surgindo ora como motes para desenvolvimentos improvisados, ora emergindo pelo meio das improvisações com o propósito de contrastar as tramas tendencialmente abstractas com figuras melódicas e rítmicas. É este procedimento que distingue o disco de outros que abraçam a música livre tocada pelos “talibãs”, expressão humorística utilizada em França para referir os improvisadores radicais, e que o aproxima das coordenadas perseguidas pela editora de Manfred Eicher. Uma, em especial, está bem servida: o nível de lirismo dos temas não está longe do do jazz nórdico que definiu o estilo ECM, com a particularidade de a música se manter fiel às particularidades do “jazz francês”.