Kuba Wiecek Trio: “Another Raindrop” (Warner Music Poland)
No que ao manejo do saxofone alto (ainda se dedicando ao soprano) diz respeito, Kuba Wiecek, com os seus 22 anos de idade e as suas prodigiosas capacidades técnicas e de expressão, é o equivalente polaco ao nosso Ricardo Toscano. Surgiu em cena vindo do nada (ou melhor, de uma formação clássica no seu país, completada depois jazzisticamente por estudos em Amesterdão e Copenhaga, além de aulas com saxofonistas como Lee Konitz (muito presente no seu estilo pessoal), Steve Lehman e David Binney. Aos seus superlativos dotes como instrumentista junta um conceito composicional igualmente sólido (ainda por descobrir no caso de Toscano), indo este beber tanto ao jazz (Charlie Parker, John Coltrane, Sonny Rollins, Ornette Coleman, Gato Barbieri) como ao minimalismo de Steve Reich (a repetição de motivos é uma característica dos seus temas), ao hip-hop, à música electrónica e à pop mais sofisticada (tem Flying Lotus e Massive Attack, por exemplo, como influências). A Warner Music Poland reservou para ele o Vol. 78 da sua série Polish Jazz e é assim que o seu disco de estreia nos permite conhecê-lo deste lado da Europa.
“Another Raindrop” equilibra com particular sensibilidade os factores da tradição e da contemporaneidade. A escrita e a improvisação (uma escrita colocada ao serviço da espontaneidade, saliente-se) vão buscar frequentemente aos blues os seus fundamentos, e ao longo da audição reconhecemos no velho jazz de New Orleans e no be bop duas importantes fontes de inspiração. O mais interessante é o que Wiecek – com o apoio de Michal Baranski no contrabaixo e Lukasz Zyta na bateria – faz com essas referências, inclusive quando adopta o papel de arranjador em “Conception” de George Shearing, aliando inventividade, irreverência e sentido experimental, com as soluções que encontra fazendo-nos imaginar o que aconteceria se o menos atrevido Ricardo Toscano se associasse a Miguel Mira e Gabriel Ferrandini. É entusiasmante a forma como o músico aplica as fórmulas do contraponto, as estruturas dialécticas de pergunta e resposta e os preceitos harmolódicos, com a alegre e muito swingante sincopação que atravessa o disco a deslizar para um intrigante “bending” das métricas. Pois muito bem.