Spinifex: “Amphibian Ardour” (TryTone)
Eis o resultado da digressão realizada em Portugal, no Verão passado, pelo grupo de base holandesa Spinifex, e que fez por uma paragem no estúdio Namouche de Joaquim Monte. A formação é aquela que este projecto do saxofonista alto Tobias Klein, com o português Gonçalo Almeida como segundo compositor, trouxe a terras nacionais, como sempre com Jasper Stadhouders na guitarra, o referido Almeida no baixo e Phillip Moser na bateria, mas integrando um novo trompetista, o belga Bart Maris (o mesmo de Fukkeduk, X-Legged Sally, Flat Earth Society, Kamikaze e dEUS), que tinha integrado como convidado a “big band” Spinifex Maximus em 2015, o ano em que os Spinifex comemoraram 10 de existência, e um segundo saxofone, o tenor do norte-americano John Dikeman, que conhecemos do seu trio com William Parker e Hamid Drake, dos Universal Indians, que já estiveram no nosso país com Joe McPhee, e de outra banda de jazzcore, Blast.
É mais uma vez no âmbito do dito jazzcore (jazz com “riffs” de metal e punk) que se situa este “Amphibian Ardour”, embora utilizando no alinhamento temas da tradição sufi do Irão e do Paquistão e articulando uma escrita particularmente complexa e de algum modo devedora da música contemporânea a desenvolvimentos que denotam a influência da livre-improvisação europeia. O que abre o disco, “Bohemians Gone Extragalactic”, agarra-nos de imediato pelas orelhas, com uma energia e um impacto sonoro que nos chegam a cortar o fôlego. Essa intensidade mantém-se ao longo de todo o álbum, com uns momentos apenas de tréguas, mas é a variedade das abordagens que torna este quinto título do projecto num dos mais cativantes do seu percurso. Sempre no fio do arame das conjugações entre um trabalho colectivo feito de rigor e solos que disparam com uma urgência abrasiva, estridente por vezes, mas plena de argumentos. Os Spinifex continuam a ser uma das mais interessantes propostas musicais surgidas nos últimos tempos e parecem estar longe de esgotar a fórmula escolhida – antes pelo contrário, pois Maris e Dikeman renovaram-na.