Enzo Rocco / Ferdinando Faraò: “Fields” (Setola di Maiale)
Notícias boas de Itália, com um disco que junta o guitarrista Enzo Rocco (colaborações com Carlo Actis Dato, da Italian Instabile Orchestra, com Veryan Weston e, no passado, com Lol Coxhill, para além de membro do TubaTrio de Giancarlo Schiaffini) e o baterista Ferdinando Faraò (líder da Artchipel Orchestra, conhecida sobretudo pelo seu “Play Soft Machine”). O texto de promoção apresenta a música que vem dentro como «blues electrónico napolitano e funky», misturado com Verdi, heavy metal, valsas de Santo Domingo, yodel russo, noise japonês e “lullabies” cantados por um “crooner” romântico, o que, se não é totalmente explícito (haverá elementos de tudo isso e mais, mas na maior parte sofrendo enormes transfigurações e descontextualizações), tem a virtude de deitar por terra a ideia de que a improvisação é uma música não-idiomática.
Não é nem nunca foi, e esta edição começa logo por re-enraizar o livre improviso no jazz, sendo interessante verificar, por exemplo, o quanto a guitarra de Rocco deriva, em todo o seu “experimentalismo”, do estilo de um Jim Hall. Em tom mais sério, a dupla reivindica igualmente referenciações nos virginalistas ingleses, no gagaku, no dodecafonismo e no rock de Canterbury, assim como alguma crítica já lhe ouviu um «country, um bluegrass e uma folk involuntários», mas a não ser o factor jazz, que é o mais evidente, tudo o resto se faz de reminiscências. Esse factor jazz e as ditas reminiscências tornam este “tête-â-tête” chamado “Fields” no que é: um CD de música exploratória e investigativa, sim, mas com um permanente “groove”. Ora cá está um bom exemplo de música improvisada que faz bater o pé e abanar a cabeça. Interessantes tempos, estes que estamos a viver.