Bode Wilson: “Lascas” (Carimbo Porta-Jazz)

Rui Eduardo Paes

De três elementos da Orquestra Jazz de Matosinhos talvez não esperássemos um disco como este, mas João Pedro Brandão, Demian Cabaud e Marcos Cavaleiro (que juntos, sem mais companhia, se apresentam como Bode Wilson) têm (ou participam em) outros projectos que configuram bem a heterogeneidade dos seus interesses e das suas capacidades. Verdade, também, é que o anterior disco desta formação, “26”, com tudo o que já tinha do que vem aqui, não nos preparava para “Lascas”: se já então (2014) os motivos eram a liberdade expressiva numa abordagem contemplativa e a secura própria das «paisagens áridas» em que um bode chamado Wilson «mija nos arbustos», para citar o texto de promoção do trio, é agora, com este “Lascas”, que tal propósito ganha a sua total dimensão.

Tanto assim que as sete partes do tema “Lascas”, os quatro “Atalhos”, os três movimentos de “A Terra é de Quem a Trabalha” e as duas “Altitudes” nos remetem para os Air de Henry Threadgill, Fred Hopkins e Steve McCall, não porque os procurem reproduzir, ou porque sejam uma influência concreta, mas pela circunstância de a música do disco provir da mesma atitude reformuladora das grandes premissas do jazz (o estilo dos Air partiu das revisões feitas pelos mesmos dos espólios de Scott Joplin e Jelly Roll Morton) e até da linguagem-tipo específica do free, área em que tanto os Air como os Bode Wilson se situam, em ambos os casos de forma algo atípica. Neste disco ficam especialmente evidenciados os superiores dotes dos três músicos, começando pelo próprio Brandão, um saxofonista alto de estilo agridoce e com o nível de acidez certo que vamos contando como um dos nossos melhores, mas que é ainda um mais deslumbrante flautista – algo que só agora se evidencia na justa medida. Quanto a Cabaud e Cavaleiro, respectivamente no contrabaixo e na bateria, confirma-se o que já deles se dizia: que constituem uma das mais entrosadas e potentes secções rítmicas da cena portuguesa. Esta é, sem dúvida, uma das mais cativantes obras editadas até hoje por um grupo nacional.

Agenda

30 Março

Johannes Gammelgaard

Café Dias - Lisboa

30 Março

Pedro Branco e João Sousa “Old Mountain”

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

30 Março

Marmota

Casa Cheia - Lisboa

30 Março

Filipe Raposo e Uriel Herman “Dois pianos, um universo”

Centro Cultural de Belém - Lisboa

30 Março

Inês Camacho

Cossoul - Lisboa

30 Março

Abyss Mirrors Unit

ZDB - Lisboa

30 Março

Daniel Levin, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro

Biblioteca Municipal do Barreiro - Barreiro

31 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

01 Abril

Elas e o Jazz

Auditório Municipal de Alcácer do Sal - Alcácer do Sal

01 Abril

Ill Considered

Musicbox - Lisboa

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