Cotovelo (Guimarães Jazz / Porta-Jazz): “Cotovelo” (Carimbo Porta-Jazz)
Este é o quarto volume da série Guimarães Jazz / Porta-Jazz, resultando da parceria entre o festival de Guimarães e a associação Porta-Jazz e da gravação do concerto que, no ano passado, aí fez este grupo liderado pelo guitarrista Nuno Trocado, com composições próprias e de outros dois dos seus elementos, Sérgio Tavares, o contrabaixista, e Acácio Salero, o baterista. Participam também Tom Ward, em saxofone alto, flauta e clarinete baixo, e a actriz Catarina Lacerda, nas intervenções faladas com base num texto de Jorge Louraço Figueira. A edição remete-nos para um vídeo do mesmo projecto, acessível mediante a introdução de um código para “download”. O que aqui encontramos é teatro musical, de âmbito transdisciplinar, tendo como tema o ciúme. Este é tratado com o relato de dois casos históricos de discórdia, passados no século XIX, entre três homens, escravos trazidos do Brasil para Portugal, e entre um homem e uma mulher que vivem na corte.
Para Trocado, trata-se do cruzamento dos dois investimentos a que tem dedicado a sua actividade, o jazz e o teatro. Quem ouve pode sentir que a música fica espartilhada pela narrativa, não se permitindo desenvolvimentos que extrapolem as histórias em apresentação, mas tal só ocorre se não tivermos o pressuposto de que “Cotovelo” é o registo áudio de um espectáculo “intermedia”. Ouvirmos o que aqui vem apenas como uma peça de música com “spoken word” leva-nos ao engano. É algo de muito diferente o que encontramos: música enquanto teatro. Ter tal condição presente leva-nos a perceber o quanto as construções musicais, entre o que está composto e o que se improvisa, são elas próprias factores de encenação e dramaturgia. Quando a música encerra em si mesma tal relevo dramático temos o melhor dos motivos para o aplauso, e nisso este “Cotovelo” é algo de bem especial.