Al-jiçç: “٤” (Ed. de Autor)
Ao seu quarto título editado, os portugueses Al-jiçç continuam o seu trajecto dedicado ao cruzamento do jazz com a tradição sefardita (árabe e judaica, portanto), com bastas alusões ao Sul espanhol (oiça-se “Guadalajara”, “Fiesta” e “Pancho”), mas também com directas ou indirectas referências no klezmer e nas músicas da Etiópia e do Médio-Oriente, neste périplo conseguindo afastar-se dos modelos que vêm dos lados de John Zorn e companhia. Não se trata de material novo: o grupo do guitarrista Nuno Damião com Gonçalo Lopes (saxofone tenor, clarinetes soprano e baixo), Ricardo A. Freitas (baixo eléctrico) e Jorge Lopes Trigo (bateria, percussão) pegou em composições escritas entre 2007 e 2011 que tinham ficado na gaveta e deu-lhes diferentes configurações.
A maior parte dos temas tem pouco mais do que dois ou três minutos, fixando-se num formato de canção que as sonoridades da guitarra eléctrica e do sintetizador MiniKorg de Damião, lembrando a estes ouvidos alguma pop europeia dos anos 1960, mais reforçam. São, no entanto, as peças de maior duração, com solos mais demorados de Lopes (sempre especialmente cativante no manejo do clarinete baixo) e do líder, as mais interessantes, assemelhando-se com o que esta formação é quando toca ao vivo. Não é, no entanto, esse o propósito de “٤”, e sim apresentar o proposto híbrido de jazz sefardita como uma música popular, no sentido de radiofónica, mesmo que as estações de rádio nacionais nunca a venham a passar. Tal como os El Fad de José Peixoto, os Al-jiçç têm sofrido as consequências de serem considerados demasiado étnicos pelos círculos do jazz e demasiado jazzísticos pelos promotores de world music, mas sobreviveram àquele outro grupo e seguem caminho. Ora ainda bem.