Fred Frith: “Live at The Stone: All is Always Now” (Intakt)
Intakt
Fred Frith é um dos grandes guitarristas dos séculos XX e XXI e o seu álbum “Guitar Solos” (1974) é uma das obras fundamentais para quem quer compreender a guitarra eléctrica no jazz e na improvisação. Este “disclaimer” é importante para marcar uma posição: Frith está muito acima da maior parte dos guitarristas do jazz e da improvisação porque inventou um mundo novo e abriu a guitarra eléctrica a uma realidade nova. Será talvez, a par de Derek Bailey, uma das figuras centrais na libertação da técnica do instrumento e na exploração de formas e modos que hoje são assimilados e incorporados no jazz (todo o jazz, até no mais tradicional) e no rock de diferentes maneiras e com diferentes usos. Está ou esteve ainda presente em grupos que quebraram as barreiras tradicionais do rock (Massacre) e do jazz (Naked City).
Durante dez anos, entre 2006 e 2016, Fred Frith tocou regularmente no The Stone, em Nova Iorque, o clube programado por John Zorn; foram mais de 80 concertos de música totalmente improvisada com variadíssimos grupos, normalmente duos e trios. “All is Always Now” documenta alguns desses momentos. Participam neste disco músicos muito diferentes, como Laurie Anderson, Sylvie Courvoisier, Shelley Hirsch, Ikue Mori, Jessica Lurie, Pauline Oliveros, Evan Parker e Nate Wooley, entre muitos outros (são 19). Frith toca guitarra eléctrica, mas também piano e até objectos vários. Por vezes, os grupos são de velhos companheiros de estrada (exemplo: o Fred Frith Trio com Jason Hoopes e Jordan Glenn), mas em outros completos desconhecidos juntam-se pela primeira vez para tocar.
São três os CDs desta edição e cada um é uma composição urdida pelo guitarrista por meio da selecção e da colagem de improvisações de diferentes datas e grupos, para a construção de uma sequência narrativa coerente e interessante. Cada improvisação carrega consigo a personalidade dos improvisadores e isso faz com que sejam profundamente diferentes. Não há um estilo Frith nem uma fórmula repetitiva ou recorrente. Neste sentido, é desde logo interessante para o ouvinte perceber a maneira como as diferentes individualidades moldam os diferentes resultados. Temos, pois, três composições geringonça, que se ouvem com imenso prazer, feitas de bocados de peças que não pertencem à mesma máquina, mas que funcionam perfeitamente. Uma edição ambiciosa que faz um retrato claro de 10 anos de trabalho de um dos mais importantes músicos da actualidade.
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Live at The Stone: All is Always Now (Intakt)
Fred Frith
Fred Frith (guitarras, piano, objectos); Laurie Anderson (violino, teclados, electrónica); Amma Ateria (electrónica); Sylvie Courvoisier (piano); Else Olsen Storesund (piano preparado); Nava Dunkelman (percussão); Jordan Glenn (bateria); Shelley Hirsch (voz); Jason Hoopes (baixo eléctrico); Annie Lewandowski (piano); Jessica Lurie (saxofone alto); Miya Masaoka (koto, electrónica); Ikue Mori (electrónica); Pauline Oliveros (acordeão); Evan Parker (saxofones); Gyan Riley (guitarra eléctrica); Sudhu Tewari (lixo recuperado); Clara Weil (voz); Theresa Wong (violoncelo, voz, electrónica); Nate Wooley (trompete)