Ben Stapp / Joe Morris & Stephen Haynes: “Mind Creature Sound Dasein” (Fundacja Slucha)

Rui Eduardo Paes

O tubista norte-americano Ben Stapp já foi parte da cena portuguesa da improvisação, mas tem sido no seu país natal, após o regresso a Nova Iorque para uma intensa actividade em várias frentes (jazz em formações de Steven Bernstein, Mario Pavone e Nate Wooley, música contemporânea como intérprete de compositores como Earle Brown e John Luther Adams em várias orquestras, para além de passagens pelo dixieland, pela cumbia ou pelo experimentalismo mais assumido), que a sua produção musical ganhou consistência e relevo. Pelo caminho deixou uma ópera, “Myrrha’s Red Book”, cujo distopianismo reflecte o seu outro interesse criativo: a literatura de ficção científica. Este novo disco repete esse tipo de enfoque, mas é bem mais intimista, não obstante toda a fulgurância que dele emana: trata-se de um duo com o guitarrista Joe Morris a que, em algumas das faixas, se junta o cornetista Stephen Haynes, seu empregador num quinteto que é integrado igualmente por Morris e no qual encontramos William Parker e Warren Smith.

A primeira impressão que temos ao ouvir “Mind Creature Sound Dasein” é de perplexidade: a música soa como se fosse improvisada, mas é patente que há um sólido conceito por detrás, entre um meticuloso trabalho de composição e um factor de produção não muito habitual neste domínio. O que resulta é algo de alienígeno, não correspondendo a nada do que conhecemos como “jazz” ou como “new music” (com, por exemplo, Morris a criar sons que nunca lhe tínhamos ouvido na guitarra processada), mas que ainda assim é feito com materiais reconhecíveis, como o rock em “Giant Unicellular Water Slug Calls”, a herança das bandas de marcha de New Orleans em algum do trabalho da tuba e do eufónio, a exemplo de “Pretas Create a Puppet Show” e “The Nuclear Demigods”, a irónica caricatura do classicismo feita pelo que parece ser um violoncelo em “Cutting Up and Filing Away”, não referido na ficha técnica (será Morris tocando a guitarra com um arco?), ou algo que julgaríamos ter proveniência nos pigmeus do centro de África (“Epilogue”). A abstracção, ou aquilo que Bill Dixon designava como «going to the center», factor que é salientado pelo autor das “liner notes”, Clifford Allen, é uma constante processual e estética, mas a dita surge com um sentido de “drive” e de “groove” que, regra geral, só encontramos no âmbito do bop, do pós-bop e do modalismo. Passada a surpresa vem o prazer e a certeza de que estamos perante um dos mais deliciosos discos não só do ano, mas da última década.

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