Jeffery Davis: “For Mad People Only” (Carimbo Porta-Jazz)
Um de vários músicos de outras origens geográficas que há muito fixaram residência em Portugal, o canadiano Jeffery Davis é não só o mais importante vibrafonista de jazz com actividade no nosso país como também o responsável maior por hoje existirem entre nós alguns jovens bons praticantes desse instrumento – foi ele quem os formou. Cada seu novo disco é recebido com muita expectativa e este “For Mad People Only”, o quarto que tem como protagonista, não é excepção. Num registo “moody” em que as elegantes composições (diga-se que com o melodismo que já é típico do jazz português) do próprio Davis são colocadas ao serviço da improvisação, o que encontramos tem o nível de intensidade, entrega e sentido de voo que pedimos ao melhor jazz, tenha ele a proveniência que tiver. Neste aspecto, um tema como “Between a Rock and a Dark Place” enche-nos as medidas, sendo bastante mais fulgurante e luminoso do que o título faz crer.
Com Jeffery Davis estão quatro músicos de quem nos habituámos a esperar muito: José Soares no saxofone alto, Óscar Marcelino da Graça ao piano, Francisco Brito no contrabaixo e Marcos Cavaleiro na bateria. A secção rítmica cumpre as suas funções com esmero, sempre suportando da melhor maneira os solos do líder, todos eles uma delícia de se ouvir, mas manda a justiça evidenciar o trabalho que aqui é desenvolvido pelo saxofonista. Com base no tipo de abordagem da tendência cool e por vezes lembrando ora Lee Konitz, ora Art Pepper, José Soares confirma neste disco a percepção de que se tornou num dos mais interessantes altistas deste país. Com uma sonoridade limpa e cheia, de veludo, mas nunca excessivamente açucarada (chega até a ser algo ácido), Soares é uma figura-chave neste álbum no que respeita a requinte e foco – oiça-se, por exemplo, o que faz em “Monkey Business” e na peça que dá nome ao CD. Mais uma pérola do viveiro musical do Porto…