César Cardoso Ensemble: “Dice of Tenors” (Edição de Autor)
Há três formas de entender – ou seja, de tocar – o jazz: uma é de comemoração e reprodução passiva do seu património, outra de busca de novos caminhos e outra ainda de combinação dessas duas perspectivas, pegando no legado histórico do género musical para o converter com recurso a parâmetros harmónicos e rítmicos que não são propriamente os originais. O novo álbum de César Cardoso, a editar no próximo mês de Abril, insere-se no último tipo de abordagem. O saxofonista português foi buscar temas a alguns dos tenores de referência do passado, como Benny Golson, John Coltrane, Joe Henderson, Hank Mobley, Dexter Gordon e Sonny Rollins, e formou um grupo em que encontramos Jason Palmer, Miguel Zenón, Massimo Morganti, Jeffery Davis, Óscar Marcelino da Graça, Demian Cabaud e Marcos Cavaleiro, com o propósito de lhes dar outras configurações. Para firmar a sua intenção de que os mesmos devem ser ouvidos como se fossem novidades absolutas, acrescentou duas peças de sua própria pena em que parte de noções técnicas e lexicais da actualidade para revisitar a tradição.
Este é o “tema” de “Dice of Tenors”, criando uma música que trata sobre a própria música, ou melhor, sobre a história do sax tenor no jazz, aquela que Cardoso recria no seu instrumento, e se o propósito comporta uma boa dose de risco, porque podia incorrer em formalismo, este é evitado em cada momento pelo modo como se equilibram legado e criação. César Cardoso não se limita a assinar arranjos para octeto (quatro sopros, designadamente saxofones tenor e alto, trompete e trombone + secção rítmica com dois instrumentos harmónicos, vibrafone e piano) das canções que selecionou: remodela-os, ainda que respeitando as intenções dos autores. Poderia ter ido mais longe e há momentos da audição do disco em que o desejaríamos, mas o que aqui vem tem uma relevância digna do maior aplauso. Eis mais um caso da superior qualidade do jazz que se pratica em Portugal, em colaboração com nomes de outros países. Um deles Miguel Zenón, com quem o líder desta sessão repete uma bem-sucedida parceria.