Javier Subatin: “Variaciones” (Fundação GDA)
Guitarrista e compositor argentino residente em Lisboa, Javier Subatin vai-se gradualmente impondo na cena portuguesa do jazz com uma música que joga com a contrastação do familiar com o estranho. Os elementos rítmicos e harmónicos do jazz surgem no lugar que lhes destinou a história do género e o trabalho melódico é o que podíamos esperar do cruzamento da tradição pós-bop com a música das origens geográficas do seu autor, mas a maneira como se lida com esses parâmetros torna o reconhecível, o habitual, em algo de completamente diferente: os temas de Subatin não só podem ser polirrítmicos, associando os instrumentos de Pedro Moreira, João Paulo Esteves da Silva, André Rosinha e Diogo Alexandre em diferentes combinações métricas, como os ouvimos, por vezes, a desembocar em cruzamentos harmónicos bizarros, mexendo com as clássicas noções de dissonância, tudo isso enquanto o saxofone tenor e o par guitarra / piano recorrem, aqui ou ali, a contramelodias, que não apenas a contrapontos melódicos.
Quando fixamos a atenção numa determinada linha de desenvolvimento, apercebemo-nos de que há outra, ou outras, a decorrer por baixo, ou ao lado. Podemos escolher a, ou as, que quisermos, bem como verificar como funciona o todo dos autênticos “puzzles” que vão sendo montados, e isso faz com que cada audição deste “Variaciones” nos permita usufrutos distintos – daí, supomos, o título do disco. De toda esta complexidade estrutural e performativa emana uma aparência de narrativa, de fluxo, que nos desconcerta e intriga, tão simples e directa ela resulta. Uma música que é francamente difícil ouve-se, assim, como se fosse coisa fácil, e se nela todos os códigos do jazz “mainstream” são respeitados, surgem com tratamentos que seriam mais expectáveis nas tendências “avant-garde” do género. Que boa surpresa.