Believe, Believe

Luís Lopes Humanization 4tet: “Believe, Believe” (Clean Feed)

Clean Feed

Gonçalo Falcão

“Believe Believe” é um disco com um travo amargo: gravado numa sessão ao vivo no Marigny Studios em New Orleans (um estúdio de gravação com bar e público), no final da terceira “tournée” norte americana do quarteto (ler + em https://jazz.pt/entrevista/2020/03/30/mandar-para-frente/), abria as portas para uma viagem do grupo pela Europa. O vírus que parou o mundo matou os 12 concertos programados – Alemanha, Suíça, Bélgica, Rússia, Noruega, Portugal – para fazer ouvir o novo disco e deixou-nos só com esta gravação da expedição pela América profunda, armada e precária.

O quarto disco do Humanization 4Tet é mais um passo largo na carreira musical de Luís Lopes e do quarteto criado em 2008, um grupo difícil de gerir porque vive separado por 7500 Kms: metade em Lisboa (Lopes e Rodrigo Amado) e a outra metade em Dallas (Aaron e Stefan Gonzalez). Não é por isso de estranhar que “Believe, Believe” expire um silêncio de sete anos e apresente grandes diferenças. Aos meus ouvidos, para melhor.

É vulgar dizer que os Humanization têm um jazz musculado, no sentido em que a música da aliança luso-americana é intensa, forte, como um grupo de rock bola-prá-frente. Energia, pulsação, alegria e aventura. Mas esta não é uma imagem completa: é verdade que Lopes gosta de tocar alto e forte e que a parceria com o saxofonista Rodrigo Amado funciona particularmente bem, porque ambos aceitam a corrida sem vontade de a ganhar. Também é justo dizer que a secção rítmica dos irmãos Gonzalez se enquadra magnificamente neste ambiente esforçado e é capaz de o travar ou de lhe dar estrutura, unindo todos os elementos como um campo magnético.

Há duas grandes diferenças que fazem diferença nesta nova gravação. Uma: as músicas soam a hard bop mundano e tosco que rapidamente se sujam através das improvisações. Podem ser partes de um tema clássico ou uma frase de um dos músicos que colocam a máquina em movimento. A canção de abertura, por exemplo, “Eddie Harris / Tranquilidad Alborotadora”, parte do tema “Eddie Harris” que apareceu no disco de Clifford Jordan, “Glass Bead Games” de 1974, e evolui para uma ideia criada por Stefan Gonzalez. Outros temas surgem de pequenos esboços de Rodrigo Amado (“Replicate I / Replicate II”). “Engorged Mosquitoes” e “Brainlust Distraction” são ideias de Aaron Gonzalez desenvolvidas pela banda. A segunda diferença é a guitarra de Luís Lopes, que mudou a sua forma de tocar, adoptando um som de “surf guitar”, com muito  “twang”, cheia de disparos e repetições (“stutter”), muito boa de ouvir.

O registo em New Orleans fixa um som livre e natural de (nas palavras de Guy Peters) uma banda de «bandidos livres, funk, rock e noise, uns contra os outros».

  • Believe, Believe

    Believe, Believe (Clean Feed)

    Luís Lopes Humanization 4tet

    Luís Lopes (guitarra eléctrica); Rodrigo Amado (saxofone tenor); Aaron Gonzalez (contrabaixo); Stefan Gonzalez (bateria)

Agenda

23 Março

Anthropic Neglect

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

23 Março

João Almeida e Miguel Fernández

Café Dias - Lisboa

23 Março

George Esteves

Cascais Jazz Club - Cascais

23 Março

Sei Miguel Unit Core

Livraria Ferin - Lisboa

23 Março

Alex Zhang Hungtai e Gabriel Ferrandini / Guilherme Curado

Titanic Sur Mer - Lisboa

23 Março

Manuel Oliveira, Rodrigo Correia e Guilherme Melo

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

24 Março

Margaux Oswald

Cossoul - Lisboa

24 Março

The Comet Is Coming

Lisboa Ao Vivo - Lisboa

24 Março

Alessio Vellotti Group

Cascais Jazz Club - Cascais

24 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

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