Guilherme Rodrigues / Pedro Carneiro / Ernesto Rodrigues / Rodrigo Pinheiro / Hernâni Faustino: “The Book of Spirals” (Creative Sources)

Rui Eduardo Paes

Juntar Pedro Carneiro, percussionista de música erudita contemporânea que também improvisa, e Rodrigo Pinheiro, pianista improvisador que tem as suas matrizes de referência tanto no jazz quanto na tradição clássica, só poderia resultar em algo de especial. No caso de “The Book of Spirals” envolvidos estão também três músicos que muito têm feito para esbater fronteiras entre géneros musicais, o violoncelista Guilherme Rodrigues, o violetista Ernesto Rodrigues e o contrabaixista Hernâni Faustino. Os “atractores estranhos” das ordenações do caos que vêm neste disco são, portanto, a marimba de Carneiro (seu principal instrumento) e o piano de Pinheiro, e se é certo que o factor timbre é de suma importância neste contexto, os dois músicos definem a sua interacção no propósito – espontâneo, intuitivo, improvisado, relembre-se – de construir situações harmónicas a partir de impulsos rítmicos, generosamente amplificadas, ou contrariadas, pelas cordas.

Resultado: a música é saltitante, decorre por erupções, soluços. Imaginamos logo toda uma coreografia, porque é disso que se trata, movimento. Às tantas, no longo primeiro tema, “Swirl”, os dois Rodrigues e Faustino ora instalam ambiências em “drone”, ora intervêm com notas longas, transformando o salto em languidez. O que vem a seguir é uma mescla dos dois planos e isso faz com que tudo ganhe uma relevância dramática poucas vezes conseguida quando estamos perante abordagens tão abstractas. O que antes se pressentia confirma-se: o que aqui está é música de dança, mesmo que não tenha sido criada para tal efeito. E das melhores que temos ouvido em muito tempo. A forma como todos estruturam e encenam o que vamos ouvindo é notável e parece, inclusive, pré-determinada. Há crescendos de intensidade que depois se diluem, em manifestações muito físicas de sístole e diástole, e quando se atinge um clímax final, vem a seguir o apaziguamento. “Whirl” segue os mesmos princípios de outro modo, com mais urgência e mais argumentos. Não há qualquer economia de sons, mas nada parece vir a mais. Nos últimos minutos, resolvida a sofreguidão com que tudo acontece, somos também conduzidos para um mar de serenidade. “Twirl” percorre o caminho inverso: contamina a calma com inquietação, desperta os corpos imaginários que habitam a peça e dá-lhes vida. Quem diria que a presente livre-improvisação tem ainda Terpsícore como musa…

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