Kaja Draksler Octet: “Out For Stars” (Clean Feed)
Clean Feed
O trabalho da jovem pianista eslovena Kaja Draksler tem sido aliciante de seguir, porque raramente fica no mesmo sítio. De todas as suas formas musicais – solo, duo de pianos, duo com guitarra, duo com trompete, trio com bateria e contrabaixo, quarteto com sopros, este octeto é, para mim, o seu projecto mais relevante. O primeiro disco desta formação, de 2017, foi notável: Kaja Draksler descobriu um filão e por isso a minha curiosidade instalou-se confortavelmente no sofá mal o CD começou a rodar no aparelho. O grupo é o mesmo do primeiro disco e as duas vozes femininas continuam a marcar decisivamente o ambiente musical. Dei nota máxima ao primeiro (“Gledalec”), vamos a este.
Diz a compositora que procura uma linguagem musical propositadamente campestre. Ainda que se trate de uma formação alargada, cada instrumento parece ter um lugar próprio. Há ar e espaço entre os sons e a pauta encontra maneiras de todos contribuírem para uma música que é económica. Quando os músicos estão fora da partitura e improvisam, a gestão entre o escrito e o criado no momento continua a ser induzida pela compositora, que abandona os instrumentistas em situações que têm sentido – estes podem dar continuidade ao que está no papel ou contrariá-lo.
A poesia de Robert Frost, é o elemento conceptual condutor usado neste disco e, talvez sugestionados, a questão campesina aflui realmente ao nosso cérebro na audição. As vozes femininas continuam a dominar a música e o sexteto por detrás encaixa e desencaixa a correcção das vozes e a música muito definida que as ditas parecem sempre querer trazer. É uma organização estranha, entre a ordem humana e a da natureza. A percussão já não serve para unir, como no primeiro disco, mas para dispersar e acrescentar sons naturais. As canções perderam o sabor medievo que assumiam no primeiro disco – estão agora mais humanas, como se fossem interpretadas num jardim, fazendo-se ouvir sem quererem tapar o som das árvores e dos pássaros.
Sentimo-nos agora mais próximos do século XIX, e desta vez nas mãos de Rossini quando escreveu a “Petite Messe Solennelle”. Não é o Rossini operático, é o camponês, o gastronómico. Quando este escreveu a “Petite” estava retirado em Passy, no campo, e compôs uma missa extraordinária, para uma pequena orquestração de 12 cantores, dois pianos e um harmónio. Também neste novo movimento do octeto de Kaja Draksler ficamos entre paredes, que abrem para jardins que não existem.
-
Out For Stars (Clean Feed)
Kaja Draksler Octet
Kaja Draksler (piano, kalimba, campana); Björk Níelsdóttir, Laura Polence (vozes); Ada Rave (saxofone tenor, clarinetes soprano e baixo, harmónica); Ab Baars (clarinetes soprano e baixo, saxofone tenor, harmónica); George Dumitriu (violino, viola, harmónica), Lennart Heyndels (contrabaixo, voz); Onno Govaert (bateria, percussão, harmónica)