Chrome Hill: “This is Chrome Hill” (Clean Feed)
Clean Feed
Os Chrome Hill tocam música que nos transporta para os “westerns spaghetti” de Sergio Leone com a música de Ennio Morricone. Nada disto é feito de modo evidente ou descritivo. É um certo ambiente que faz afluir ao cérebro - se quisermos - esse mundo de grandes paisagens, esforçados cavalos e bons ou maus “cowboys”. São canções bonitas, que parecem trotar contemplativamente, conduzidas pelo som da guitarra cheia de “twang”.
O quarteto norueguês continua a sua viagem por uma América imaginada. Podemos dizer com alguma confiança que a guitarra barítono de Asbjørn Lerhein é a alma deste projecto de música de vaqueiros que vem do frio, para o qual muito contribui também o contrabaixo de Roger Arntzen (Ballrogg), a bateria de Torstein Lofthus (Elephant9) e o sax tenor (e clarinete baixo) de Atle Nymo (Motif, Atle Nymo Quartet).
O primeiro tema é lento. Sentimo-nos a andar sob um sol escaldante. Há uma tensão, mas também uma beleza melódica que nos diz que não é caso para cangalheiro. Segue-se um andamento mais rápido orientado pelo saxofone e pelo contrabaixo. Perdem-se por momentos as referências “western”, mas estas ressurgem numa perseguição galopante em “Ascend”, o tema que ocupa o terceiro lugar no ordenamento de “This is Chrome Hill”, título que é uma afirmação merecida de uma banda que desde 2008 peneira este imaginário à procura de pepitas (na verdade desde 2003, mas então com outro nome, Damp).
“Interlude” é uma canção deslumbrante que marca precisamente o meio do disco, do melhor que reconhecemos em Morricone, Einaudi, Rota e tantos outros que herdaram a tradição italiana, que vem de Vivaldi e Rossini, de saber como fazer árias que nos emocionam. O som da guitarra é igualmente notável e esta música vale pelo disco. Este som vem de Hank Marvin e está presente em Terje Rypdal, o vanguardista da guitarra eléctrica da Noruega. Este, por sua vez, influenciou, e muito, o estilo de Asbjørn Lerhein. Os Chrome Hill são, inesperadamente, uma espécie de Shadows From Space.
No quinto tema voltamos a uma pradaria árida e seca e à pequenez do homem. Um tambor grave evoca o perigo dos maus da fita, que aparecem sempre sem aviso, traiçoeiros. O ar está denso e profetiza a ameaça. O disco segue consistente e bom de ouvir até ao final, quando no ecrã iluminado da nossa imaginação aparece a palavra Fim. Isso acontece precisamente em “Light”, quando as luzes se acendem e saímos daquele tempo e daquele espaço que têm sido tão atraentes para tantas gerações e que são tão visuais como sonoros. “Light” dá-nos novamente uma beleza redentora e a crença na derrota dos vilões e no triunfo dos bons - mesmo quando a vida nos diz o contrário.
Fecha-se o álbum com mais uma melodia que nos leva a fazer as pazes com o mundo e a sorrir, porque estamos vivos e a probabilidade de isso acontecer por estes dias não é muita. Saímos de “This is Chrome Hill” em grande. O “cowboy” monta no selim e no ecrã iluminado surge a palavra Fim.
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This is Chrome Hill (Clean Feed)
Chrome Hill
Asbjørn Lerheim (guitarra eléctrica, guitarra eléctrica barítono); Atle Nymo (saxofone tenor, clarinete baixo); Roger Arntzen (contrabaixo); Torstein Lofthus (bateria)