Nubya Garcia: “Source” (Concorde)
Concorde
Nubya Garcia é mais uma das estrelas da nova fornada do jazz inglês. A família originária da Guiana, no topo da América do Sul, passou-lhe o sabor da música caribenha e do reggae. Ouvimo-la mais ou menos explícita e esse é o fator de novidade na sua música, que finalmente se vê editada em formato longo. Não que o reggae, o mento, o calipso e o jazz nunca se tenham cruzado – lembramos Coleridge Goode ou Joe Harriot e mesmo Gwigwi Mrwebi que, sendo sul-africano, tinha muito mento nas veias e tocava com os jamaicanos londrinos - mas esta é uma nova tentativa feita com novos argumentos e só por isso já vale a pena.
Garcia tem um bom som no tenor, muito amplo, e improvisa com lentidão, em longas linhas melódicas que evocam o jazz modal de Alice Coltrane e Pharoah Sanders (no qual muita da sua geração está a beber). É um novo hard bop em que ecoa Sonny Rollins e nele reconhecemos vontade e espírito, atirando-se para a frente e levando o grupo atrás de si. Em disco é muito melhor do que o foi na única audição por mim feita ao vivo, parecendo então que não tinha argumentos nem banda para aguentar um concerto em trio.
Outra das características desta geração é uma aposta forte na gravação e na produção, que garantem um som fino e detalhado, digital, com o espaço muito bem preenchido, tal como ouvimos na música pop. O uso de baterias techno é outro dos elementos partilhados com a restante onda britânica. A bateria é previsível e os ritmos são seguros, de modo a criar um contínuo, uma base, sobre a qual o saxofone sola. As progressões harmónicas nos teclados são confortáveis, de maneira a também proporcionarem uma lógica simples aos solos de saxofone. A música é agradável de ouvir, segura e com uma procura de novidade.
Não encontramos em “The Source” nada de excepcional, mas é um bom disco, solar, prazenteiro de ouvir nos últimos dias de calor que ainda temos. Por vezes é demasiado evidente ou passivo, escorregando facilmente para a condição de música de fundo. O tema “Source” é aquele em que mais claramente ouvimos o reggae e “Inner Game” o que mais evoca a “Latin America”. Nubya Garcia vinha preparando esta música com os Nérija, sendo a relação com a geografia musical de referência ainda mais evidente em “Maisha”. Nos dois casos a música está mais longe de um produto que possa ser consumido sem dificuldades num “lounge” ou “rooftop” e assim se percebe este passo a solo, com mais controlo sob o resultado final. Se este é mais acessível, não é mais pobre, especialmente no que ao sax diz respeito.
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Source (Concorde)
Nubya Garcia
Nubya Garcia (saxofone tenor);Joe Armon-Jones (piano, teclados); Daniel Casimir (contrabaixo); Sam Jones (bateria)