Bashing Mushrooms

I.P.A.: “Bashing Mushrooms” (Cuneiform)

Cuneiform

António Branco

Em 2007, um trio formado pelo saxofonista e clarinetista Atle Nymo, o contrabaixista Ingebrigt Håker Flaten e o baterista Håkon Mjåset Johansen atraiu atenções ao lançar uma desafiante leitura do seminal “Complete Communion”, álbum de 1966 de Don Cherry (a estreia do trompetista e compositor como líder e o seu primeiro registo para a Blue Note).

No ano seguinte, juntou-se ao trio norueguês o trompetista sueco Magnus Broo (o membro “sénior” do grupo, já então com carreira perfeitamente estabelecida) e estava formado o quarteto I.P.A., que se deu a conhecer ao mundo com dois discos muito bem recebidos, “Lorena” (2009) e “It’s A Delicate Thing” (2011), ambos com chancela da norueguesa Bolage. O álbum de 2014, “Bubble”, editado na sueca Moserobie, já contou com a participação de um dos mais relevantes vibrafonistas europeus da atualidade, o também sueco Mattias Ståhl, que veio alargar sobremaneira o espetro de possibilidades sónicas à disposição da formação.

“Bashing Mushrooms”, o quinto registo do grupo e segundo na Cuneiform, sucedendo a “I Just Did Say Something”, de 2016, explora uma nova faceta do quinteto, marcado pelo desenvolvimento de estruturas melódicas mais declaradas e texturas espaçosas. Em notas de apresentação, Atle Nymo enquadra esta nova fase da música do quinteto: «As melodias são bastante claras. Sentimos que somos uma banda de jazz agora. Talvez tenhamos passado algum tempo tentando descobrir que direção tomar, com mais improvisação ou material mais livre. Nesta sessão, as melodias podem ser soltas em algumas partes, mas na maioria são bastante estruturadas.»

Apesar de o título do novo disco poder sugerir aventuras psicadélicas, o certo é que a música que se escuta em “Bashing Mushrooms” é clara e elegante, com o refinado material escrito a coabitar criativamente com uma sempre presente (e decisiva) componente improvisacional capaz de o carrear para outros lugares. O que estes cinco músicos nos oferecem é um jazz orgânico e quente, em clara oposição com o clima das latitudes de onde são oriundos.

A inaugurar a função, “Kudeta”, peça da autoria do saxofonista, assenta num motivo telegráfico proposto pelo vibrafone e no vigor da secção rítmica. O trompete luminoso de Broo contrasta deliciosamente com o vibrafone e com o saxofone assertivo de Nymo. “Bamse”, espécie de canção de embalar escrita pelo trompetista (“Bamse” é uma personagem de animação, um urso, muito popular na Suécia), traz uma atmosfera serena e uma melodia cantarolável.

Broo é também o responsável pelo tema-título, que exibe um motivo inicial de pura energia bop, com uníssonos apertados entre os dois sopros, como que ganhando momento para partirem em direções distintas, suportados por Flaten e Johansen em ebulição. De atmosfera mais delicada, “Horus Øye” demonstra notável apuro melódico, com Ståhl a assinar uma das suas memoráveis intervenções.

Não são necessárias muitas explicações para percebermos que “Go Greta” é uma vibrante declaração de apoio à jovem ativista sueca que tem agitado consciências e sofrido ataques dos líderes obscurantistas do costume e suas máquinas de ódio. Também saída da pena do vibrafonista, “Barnen”, porventura a melhor peça do disco, é introduzida pela secção rítmica que suporta o lançamento, pela dupla de sopros, de uma melodia lamentosa, da qual se liberta um soberbo solo do saxofonista, que explora o registo mais grave do instrumento. Um belo solo de Broo antecipa o retomar da melodia base.

“Farmor”, outra peça melodicamente rica, é iluminada pelo belo diálogo entre trompete e vibrafone. Atente-se, igualmente, na intervenção de Flaten. Muito diferente é “Fem Skator”, uma soalheira peça da autoria de Broo, introduzida pelo vibrafone e em que trompete e bateria esgrimem argumentos. Eis um disco conseguido de um grupo sempre capaz de surpreender.

  • Bashing Mushrooms

    Bashing Mushrooms (Cuneiform)

    I.P.A.

    Atle Nymo (saxofone tenor, clarinete baixo); Magnus Broo (trompete); Mattias Ståhl (vibrafone); Ingebrigt Håker Flaten (contrabaixo); Håkon Mjåset Johansen (bateria)

Agenda

28 Março

Daniel Levin e Samuel Ber / Biliana Voutchkova e Luka Toyboy

Sonoscopia - Porto

28 Março

Savina Yannatou, Julius Gabriel, Agusti Fernández, Barry Guy e Ramon López

Porta-Jazz - Porto

30 Março

Johannes Gammelgaard

Café Dias - Lisboa

30 Março

Pedro Branco e João Sousa “Old Mountain”

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

30 Março

Marmota

Casa Cheia - Lisboa

30 Março

Filipe Raposo e Uriel Herman “Dois pianos, um universo”

Centro Cultural de Belém - Lisboa

30 Março

Inês Camacho

Cossoul - Lisboa

30 Março

Abyss Mirrors Unit

ZDB - Lisboa

30 Março

Daniel Levin, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro

Biblioteca Municipal do Barreiro - Barreiro

31 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

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