Cortex: “Legal Tender” (Clean Feed)

Gonçalo Falcão

Sexto disco do quarteto norueguês que junta algumas estrelas nórdicas. A fórmula é clássica: combo de trompete e saxofone a dar o corpo às balas, bateria e contrabaixo a empurrar para a frente. O processo também é académico: melodias expostas em uníssono pelos dois sopros, desenvolvimento, solos e fecho. Até aqui parece que estamos num formato do quarteto sem piano que, não sendo o mais comum, também não é uma raridade (Gerry Mulligan Quartet, Ornette Coleman Quartet, Masada).  Deixados sozinhos na frente, sem a base harmónica do piano, da guitarra ou do vibrafone, os sopros têm de fazer pela música. Mas não é bem isso o que se passa nos Cortex, pois a bateria e o contrabaixo têm um papel fundamental. Tanto o trompete de Thomas Johansson (que ouvimos na Paal Nilsen-Love Large Unit, nos Friends & Neighbours e nos All Included) como os saxofones de Kristoffer Berre Alberts (Starlite Motel, Exoterm, Way Ahead, Snik) têm uma energia enorme, entregam os temas com força, pulsação e atitude, e encantam-nos porque essa solidez manifesta-se mesmo com uma primeira audição menos atenta.

No primeiro tema é impossível não nos lembrarmos do quarteto de Ornette Coleman, com a exposição lenta pelos dois instrumentos melódicos, num uníssono solto, e a bateria e o contrabaixo num andamento pedonal. Excelente a gravação, que nos dá um som muito definido, mas sem estar polido ou sem ser digital. É uma captação tipo concerto em que temos os instrumentos a soar naturais e todos ao mesmo nível. O contrabaixo de Ola Høyer e a bateria de Gard Nilssen (Bushman’s Revenge, Gard Nilssen’s Supersonic Orchestra, sPacemonKey) não estão atrás, mas sim em plano de igualdade com os dois sopros. As composições são todas do trompetista Thomas Johansson e têm uma enorme coerência formal. São esquinadas, cheias de inconsistências, com sequências de notas aparentemente desconexas, mas que fazem sentido. Têm o emaranhado rítmico e a rapidez que Zorn tanto gosta de usar, mas estruturas rítmicas propulsivas, que obrigam a bater o pé e a mexer o corpo. Há ritmos dançáveis, uma enorme boa onda. O disco fecha em beleza, com “Loose Blues”, uma canção lenta, de uma tristeza redentora em que a bateria constrói uma base lindíssima que retira a música do expectável (no final, uma surpresa escondida: depois dos cinco minutos iniciais, temos um minuto de silêncio e surge novamente a bateria, muito mais alegre e festiva, com os sopros a apresentarem uma música completamente nova). Os Cortex tocam um jazz quente, “in your face”, que não soa demasiado perfeito e organizado. O tipo de disco e de som que, sem ser revolucionário, é muito bom de ouvir, porque constrói sobre o passado, está vivo e com vontade de viver.

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