Fred Lonberg-Holm / Luís Lopes / Stale Liavik Solberg: “Hullabaloo” (Multikulti Project)

Rui Eduardo Paes

Assim é o mundo da música improvisada: um norte-americano, um português e um norueguês numa edição polaca gravada em Lisboa há um par de anos e lançada em pleno ciclo pandémico, porque, acima de tudo, há que não parar e assumir que a espontaneidade compositiva não reconhece fronteiras, algo de bom quando se sabe que o vírus também o faz. O eixo de todos os procedimentos está na guitarra de Luís Lopes, nos “feedbacks” que produz, nas linhas fragmentárias – mesmo quando há repetição -, não-lineares, que o músico vai desenrolando, regra geral em abuso das possibilidades do instrumento. O violoncelo de Fred Lonberg-Holm guincha, lamenta-se, tudo fazendo para contradizer o legado clássico, conservatorial, desse cordofone, bem como a ideia de Belo que vai sendo norma desde a Antiguidade Grega. A percussão de Stale Liavik Solberg é comentativa, acrescentacionista, rendilhada e textural, nunca se colocando em plano de acompanhamento ou de base.

Há ritmo, mas não pulsação fixa, ainda que se pressinta alguma ascendência rock. A harmonia é algo que se dispensa, e se isso, para nós ocidentais, pode ser sinal de “vanguardismo”, não esqueçamos que as músicas asiáticas tradicionais também a ignoram. Aliás, há pelas cinco faixas deste disco um registo primevo, ritualístico e cerimonial que volta às raízes da organização sonora, como se esta fosse a música de antes de todas as músicas, uma música sem propósito e intenção outros que não a catarse, o afastamento dos maus espíritos e a celebração da vida na sua máxima elementaridade. Não é fácil de ouvir, pode até não ser agradável, mas “Hullabaloo” não é música de entretenimento, mas sim de intervenção, de incómodo, de alerta, em suma, de arte. Uma arte sem tempo, mas que ilustra bem o angustiante tempo em que vivemos. Parece até que, em 2018, quando foi para o estúdio Namouche, este trio em estreia adivinhava o que ia acontecer no mundo pouco depois.

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