Jazz is Dead 5

Ali Shaheed Muhammad / Adrian Younge / Doug Carn: “Jazz is Dead 5” (Black Jazz)

Black Jazz

Gonçalo Falcão

A série “Jazz is Dead” (em resposta à afirmação de Frank Zappa segundo a qual «jazz is not dead, it just smells funny»), criada por Ali Shaheed Muhammad e Adrian Younge, tem-se dedicado a recuperar uma série de músicos dos anos 70 e 80 do século passado e a dar-lhes uma nova hipótese. Tudo gravado num estúdio retro-analógico, dado tratar-se de música com conceito. Os dois produtores de Los Angeles (Younge e Muhammad, que conhecemos melhor do que fizeram com A Tribe Called Quest) criam uma série de bases para músicos de jazz solarem e convidam nomes relativamente distantes para o fazer sobre os seus arranjos.

Estamos no domínio do jazzinho para consumo no estabelecimento: bases simples, ritmos lentos e dengosos, música orquestral à Barry White, mas com sintetizadores em vez de cordas, percussão muito bem trabalhada com um travo tropicalista, sopros, baixo claro e profundo, coros femininos sussurrantes e um cheirinho a samba aqui e ali. Roy Ayers, Gary Bartz, Marcos Valle e Azymuth foram alguns dos convidados para os quatro primeiros volumes desta série.

O cenário muda neste novo disco em que a dupla de Los Angeles convida o organista Doug Carn; o teclista notabilizou-se com um trio de bons discos na editora Black Jazz, entre 1971 e 1973: “Infant Eyes”, “Spirit of the New Land” e “Revelation” misturaram o jazz espiritual coltraniano e a soul progressiva para a criação de uma diferente linguagem pós-bop. Os seus discos surgiram na sequência do trabalho que Carn desenvolveu nos dois primeiros álbuns dos Earth Wind & Fire.

Doug Carn é, portanto, mais um músico sénior relativamente desconhecido, que desapareceu da vida profissional e dos estúdios em 1975 e que ressurge 45 anos depois numa editora com o mesmo nome (a Black Jazz original fechou nesse ano – a marca foi comprada em 2012 pela Snow Dog Records, que começou a reeditar os 20 LPs que a companhia tinha lançado entre 1971 e 1975 – e esta “nova” Black Jazz carrega o nome da originária, mas não tem qualquer relação formal com ela).

O quinto “Jazz is Dead” é diferente dos predecessores. Começa por encantar com o som da bateria, com a tarola muito aberta e ritmos mais africanos. Surpreende musicalmente com o movimento dos sopros (saxofone e trompete), cíclico e desafinado. Infelizmente, nem todas as músicas assumem o risco de “Dimensions”, “Autumn Leaves” ou “Processions”, os temas que abrem este novo volume da colecção. Logo na quarta faixa somos remetidos para o “Relaxed Driving” dos volumes anteriores ou mesmo para um samba “easy listening” (“Nunca Um Malandro”). Para o fecho guardam-se outras boas músicas (exemplo: “Lions Walk”). Carn é um grande organista (utiliza o velhinho Hammond B-3) e para quem gosta de ver o gigante bem tocado este vinil vale a pena.

  • Jazz is Dead 5

    Jazz is Dead 5 (Black Jazz)

    Ali Shaheed Muhammad / Adrian Young / Doug Carn

    Ali Shaheed Muhammad (Fender Rhodes, baixo eléctrico, produção); Adrian Young (Fender Rhodes, baixo eléctrico, produção); Doug Carn (Fender Rhodes, Hammond B3, sintetizador, vocoder)

Agenda

28 Março

Daniel Levin e Samuel Ber / Biliana Voutchkova e Luka Toyboy

Sonoscopia - Porto

28 Março

Savina Yannatou, Julius Gabriel, Agusti Fernández, Barry Guy e Ramon López

Porta-Jazz - Porto

30 Março

Johannes Gammelgaard

Café Dias - Lisboa

30 Março

Pedro Branco e João Sousa “Old Mountain”

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

30 Março

Marmota

Casa Cheia - Lisboa

30 Março

Filipe Raposo e Uriel Herman “Dois pianos, um universo”

Centro Cultural de Belém - Lisboa

30 Março

Inês Camacho

Cossoul - Lisboa

30 Março

Abyss Mirrors Unit

ZDB - Lisboa

30 Março

Daniel Levin, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro

Biblioteca Municipal do Barreiro - Barreiro

31 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

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