Daniele Martini Quartet: “Impermanent” (El Negocito)

Rui Eduardo Paes

Curioso disco, este de Daniele Martini com Bram de Looze, Manolo Cabras e o português João Lobo, todos residentes na Bélgica, país que tem um circuito jazz mais rico do que aquele que por cá se suspeita. E curioso não só pela comparação com o que o mesmo saxofonista faz com os “free stylers” Tetterapadequ, o quarteto em que também está Lobo e outro nosso emigrante da música criativa, Gonçalo Almeida. As abordagens aproximam-se muito das do jazz West Coast e do cool, algo que, se já estava patente no modo como Martini utiliza o seu tenor, tem agora correspondência composicional, bem como do Miles Davis no período do seu segundo grande quinteto, aquele que gravou álbuns tão relevantes quanto “Sorcerer”, “Nefertiti” e “Filles de Kilimanjaro”. Se ouvíssemos “Impermanent” sem saber ao que íamos, justificável seria que o identificássemos como um produto desses períodos históricos. Pelo menos até chegarmos ao que de Looze faz ao piano em “Born Work Sad Happy” em conjunto com o contrabaixo de Cabras, e que sai quase completamente desses formatos para nos colocar num âmbito bem mais contemporâneo e “avant-garde”.

Situações semelhantes vão surgindo aqui e ali, mas as peças ancoram em dois tratamentos hoje considerados “clássicos” no jazz: os realizados pelas vias da melodia e do ritmo. No primeiro caso, resultam temas melancólicos e poéticos de uma elegância especialmente requintada; no segundo evidencia-se um “swing” que hoje parece desaparecido desta linguagem musical. Não se trata apenas de “groove” – o trabalho do trio rítmico swinga e dança como em outros tempos, com o sax tenor em volteios no primeiro plano que ora são lineares, frásicos, ora surgem enquanto apontamentos abstractos numa tela figurativa. A uma primeira audição, dir-se-ia que este é um disco “retro” e um tudo nada saudosista, mas o que o quarteto faz efectivamente é um “update” dos formatos em que pega, saindo-se muito bem de tal empreendimento. Há lugar para isso: voltar atrás a fim de levar aspectos do passado para o futuro, assim construindo o presente. Ou algum do presente em que estamos. Não esquecer também é inventar.

Agenda

02 Abril

Zé Eduardo Trio

Cantaloupe Café - Olhão

02 Abril

André Matos

Penha sco - Lisboa

06 Abril

Marcelo dos Reis "Flora"

Teatro Municipal de Vila Real / Café Concerto Maus Hábitos - Vila Real

07 Abril

Jam Session hosted by Clara Lacerda

Espaço Porta-Jazz - Porto

08 Abril

Greg Burk Trio

Espaço Porta-Jazz - Porto

08 Abril

Carlos “Zíngaro”, Ulrich Mitzlaff, João Pedro Viegas e Alvaro Rosso

ADAO - Barreiro

12 Abril

Pedro Melo Alves e Violeta Garcia

ZDB - Lisboa

13 Abril

Tabula Sonorum

SMUP - Parede

14 Abril

Apresentação do workshop de Canto Jazz

Teatro Narciso Ferreira - Riba de Ave

14 Abril

Olie Brice e Luís Vicente

Penha sco - Lisboa

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