Sombras da Imperfeição

Hugo Raro: “Sombras da Imperfeição” (Carimbo Porta-Jazz)

Carimbo Porta-Jazz

Rui Eduardo Paes

A introdução da guitarra portuguesa no jazz ganha com este “Sombras da Imperfeição” novas consequências, ainda que, mais uma vez, sendo outro o protagonismo instrumental: o piano neste novo CD de Hugo Raro tal como no Mário Laginha Trio (dedilhada pelo mesmo Miguel Amaral que agora reencontramos) e a guitarra de José Peixoto no Lisboa String Trio (a portuguesa nas mãos de Bernardo Couto). Uma averiguação mais abrangente da cena da música criativa só detecta três casos em que o mais luso dos instrumentos conquista o primeiro plano, se bem que num deles se trate de um derivado, o guitolão de António Eustáquio no seu duo com Carlos Barretto. Os outros são Ricardo Rocha, que para a dita compôs peças dodecafónicas assaz intrigantes, e João Desmarques, que a utiliza em abordagem experimental e de improvisação.

Outras incursões do género parecem ter ficado pelo caminho, como a da “guitarra portuguesa mutante” de Nuno Rebelo, tanto nos formatos ao vivo como de instalação sonora, e a de Joaquim D’Azurém, igualmente distante das premissas do fado. Seria injusto não apontar como incontornáveis referências do que ouvimos nesta edição sobre os binómios da luz e das sombras, «companheiras inevitáveis da consciência», o duplo álbum de improvisações que juntou Carlos Paredes e António Victorino d’Almeida, “Invenções Livres” (1986), ou a associação do mesmo Paredes a Charlie Haden em “Dialogues” (1990).

Se o clarinete baixo de Rui Teixeira também tem bastante destaque no “som” deste disco, é a guitarra portuguesa que lhe dá maior amplitude tímbrica. Mas não é só por essa vertente que a intervenção de Miguel Amaral se faz valer: na relação com aquela palheta grave, e com o mais assertivo piano (mesmo nos momentos mais poéticos que vamos ouvindo de Hugo Raro nas várias faixas), acrescenta um elemento de fragilidade, de filigrana, que “abre” a música a outros âmbitos que não os especificamente jazzísticos. O curioso é que a sua intervenção não parece corresponder a um objectivo propósito de “portugalizar” o jazz de Raro. Se a origem geográfica desta proposta musical é óbvia, em nenhum momento se pressente a intenção de criar um objecto definível como etno-jazz, folk-jazz ou world jazz.

A guitarra portuguesa é utilizada pelas suas características específicas e não pelas conotações culturais que carrega, o que faz toda a diferença – inclusive relativamente a todos os exemplos que mais em cima ficaram assinalados. Há ocasiões em que sabe bem “desterritorializar”, e esta é uma delas.

  • Sombras da Imperfeição

    Sombras da Imperfeição (Carimbo Porta-Jazz)

    Hugo Raro

    Hugo Raro (piano); Miguel Amaral (guitarra portuguesa); Rui Teixeira (clarinete baixo); Alex Lázaro (bateria, percussão)

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