Hedvig Mollestad: “Tempest Revisited” (Rune Grammofon)

Hedvig Mollestad: “Tempest Revisited” (Rune Grammofon)

Rune Grammofon

Gonçalo Falcão

A incansável Hedvig está a editar com um ritmo impressionante e sempre com imensa qualidade. A sua fórmula musical única cruza Led Zeppelin com Alice Coltrane, o rock mais pontiagudo com a repetição mântrica e espiritual.

“Tempest Revisited” é o segundo disco editado pela guitarrista norueguesa em 2021 e o terceiro em 18 meses o que nos indica que está numa fase prolífera. Desta feita, larga o formato de trio, que nos é mais familiar, e grava em octeto com dois bateristas, baixo, vibrafone, teclados, sopros e, claro, a sua guitarra elétrica. Talvez por estar numa formação mais alargada e timbricamente variado, “Tempest Revisited” é o disco em que a sua música soa mais diferente e mais romântica; menos rockeira.

Curiosamente esta edição faz-nos regressar ao início da label norueguesa Rune Grammofon, que provavelmente é a principal editora a documentar estas formas de cruzamento entre jazz e rock (Motorpsycho, Elephant 9, Krokofant, Fire! e tantos outros). Quando Rune Kristoffersen se lançou aos discos 1998,  uma das primeiras gravações que editou foi “Electric” (creio que foi mesmo o segundo LP da editora) da compositora Arne Nordheim. Foi nesse ano que ela começou a escrever “Tempest”, que acabou por se tornar a sua obra mais conhecida e escolhida para a inauguração do centro cultural de Ålesund.

Isto importa porque Ålesund é a terra natal de Hedvig Mollestad, na altura uma aspirante a guitarrista com 16 anos. 20 anos depois, o centro cultural resolveu pedir à guitarrista da terra, hoje uma música maior, uma peça para celebrar o número redondo e a a guitarrista revisitou “Tempest”; é esse o trabalho agora fixado em disco e que temos entre mãos e ouvidos.

É o disco mais lírico e menos agressivo de Mollestad. Não é aqui que encontramos as malhas desabridas de rock que tão bem reconhecemos. A música está mais doce e suave. A guitarra perde alguma centralidade mas continua a ter um papel dominador: define as melodias principais e entrega os temas.

Importadas do rock chegam as frases circulares que constroem padrões repetitivos, materializando-se não pela complexidade e intrincado das frases musicais (prog), mas pela insistência na simplicidade (stoner).
Os grupos nórdicos têm sido capazes de criar um caminho muito interessante nestes cruzamentos entre o jazz e o rock e têm também tido a capacidade de, disco a disco, expandir as fórmulas simples e diretas que criam; este é mais um belíssimo exemplo desse processo.

Cabe aqui ainda um aparte para falar de um assunto importante para quem gosta de discos: as capas. A Rune é, a par da Clean Feed, ECM, Hubro uma das editoras que melhores embalagens para os discos nos dá, desenhadas por Kim Hiorthøy. Esta é mais uma.

 

  • "Tempest Revisited"

    "Tempest Revisited" (Rune Grammofon)

    Hedvig Mollestad

    Hedvig Mollestad Thomassen (guitarra, voz, piano), Karl Hjalmar Nyberg (saxofone alto), Martin Myhre Olsen (saxofones soprano, alto e barítono), Peter Erik Vergeni (saxofone tenor e flauta),Trond Frønes (baixo), Per Oddvar Johansen (bateria), Ivar Loe Bjørnstad (bateria, percussão), Marte Eberson (sintetizador e vibrafone)

Agenda

23 Março

Anthropic Neglect

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

23 Março

João Almeida e Miguel Fernández

Café Dias - Lisboa

23 Março

George Esteves

Cascais Jazz Club - Cascais

23 Março

Sei Miguel Unit Core

Livraria Ferin - Lisboa

23 Março

Alex Zhang Hungtai e Gabriel Ferrandini / Guilherme Curado

Titanic Sur Mer - Lisboa

23 Março

Manuel Oliveira, Rodrigo Correia e Guilherme Melo

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

24 Março

Margaux Oswald

Cossoul - Lisboa

24 Março

The Comet Is Coming

Lisboa Ao Vivo - Lisboa

24 Março

Alessio Vellotti Group

Cascais Jazz Club - Cascais

24 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

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