Almeida / Gibson / Melo Alves / Trilla / Vicente: “Dog Star” (Multikulti Project)

Almeida / Gibson / Melo Alves / Trilla / Vicente: “Dog Star” (Multikulti Project)

Multikulti Project

Nuno Catarino

Um quinteto de improvisadores explora uma música puramente livre, sem rede e sem medos. Turbulência sem limites.

A formação é atípica: ao centro um contrabaixo; juntam-se duas baterias; e completa-se com dois sopros, trompete e saxofone. Este quinteto inusitado reúne músicos que têm definido a cena improvisada portuguesa nos últimos anos, tendo desenvolvido entre eles diversas colaborações, em diversas ocasiões e circunstâncias. Por exemplo: dentro deste quinteto encontramos os três elementos que constituem o Luís Vicente Trio (além de Vicente, Almeida e Melo Alves), grupo que editou o excelente “Chanting in the name of” (um dos nossos favoritos do ano). Mas se nesse álbum os músicos trabalhavam um jazz ancorado em composições, a partir das quais aproveitavam para se espraiar com liberdade, aqui não há rede: apenas um salto, a grande altura, no vazio.

O disco abre numa toada atmosférica, com os músicos a darem sugestões subtis, contribuindo para a amálgama sonora que vai tranquilamente crescendo. O ambiente é de exploração, primeiramente contida, sem arriscar. Na massa sonora destacam-se os sons metálicos, sobretudo das percussões, um emaranhado tamanho que por vezes se torna difícil destrinçar a origem de cada som e ligar a cada um dos instrumentos. O resultado é uma música áspera, de difícil absorção. Por vezes torna-se mesmo um desafio à disponibilidade de quem ouve – como pelo abuso da exploração dos agudos (no terceiro tema).

Este som resulta de um trabalho coletivo: Gonçalo Almeida (contrabaixo), Yedo Gibson (saxofones soprano, alto e tenor), Pedro Melo Alves (bateria e percussão), Vasco Trilla (bateria e percussão) e Luís Vicente (trompete). A responsabilidade é partilhada. Estes músicos, todos com vasta experiência nos terrenos da improvisação livre (e não só), evitam as estratégias típicas (pergunta-resposta, crescendos), servem-se de outras; mantém o fogo controlado, conseguem manter a chama sempre em lume brando, sem queimar demasiado, sem nunca deixar apagar. Música em tensão permanente.

Quem leve com esta música de repente, sem contexto, poderá ficar assustado. Nesta pura exploração, raras vezes se ouvem por aqui sons musicais tradicionais, fraseados estruturados, melodias sedutoras. Escutada com atenção, assistimos à sua evolução, prestamos atenção aos detalhes: os contributos instrumentais, a exploração instrumental criativa (alguns soam de forma completamente atípica), a comunicação dentro do grupo, os diálogos, o fluxo coletivo. Sim, trata-se de uma viagem com turbulência sem limites. Provoca e desafia o ouvinte, quem sobreviva sairá recompensado. 

 

 

  • Dog Star

    Dog Star (Multikulti Project)

    Almeida / Gibson / Melo Alves / Trilla / Vicente

    Gonçalo Almeida (contrabaixo); Yedo Gibson (saxofones soprano, alto e tenor); Pedro Melo Alves (bateria e percussão); Vasco Trilla (bateria e percussão); Luís Vicente (trompete)

Agenda

23 Setembro

Quarteto de Desidério Lázaro

Jardim Botânico - Lisboa

23 Setembro

Oblíquo Trio

Jardim Luís Ferreira - Lisboa

23 Setembro

Bernardo Tinoco / João Carreiro / António Carvalho “Mesmer”

Jardim da Estrela - Lisboa

23 Setembro

Ana Luísa Marques “Conta”

Porta-Jazz - Porto

23 Setembro

Igor C. Silva, João M. Braga Simões e José Soares

Arquipelago – Centro de Artes Contemporâneas - Ribeira Grande

23 Setembro

Rodrigo Santos / Pedro Lopes

Jardim Luís Ferreira - Lisboa

23 Setembro

Al-Jiçç

Centro Cultural da Malaposta - Odivelas

23 Setembro

José Lencastre, João Hasselberg, João Carreiro e Kresten Osgood

Cossoul - Lisboa

23 Setembro

Ricardo Jacinto "Atraso"

Centro Cultural de Belém - Lisboa

23 Setembro

Tcheka & Mário Laginha

Teatro Municipal Joaquim Benite - Almada

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