John Scofield: “John Scofield” (ECM)

John Scofield: “John Scofield” (ECM)

ECM

Gonçalo Falcão

Do John Scofield de “Stil Warm” até ao deste disco na ECM vai uma distância enorme e muitos anos. O guitarrista sempre foi conhecido pela sua enorme flexibilidade e capacidade de adaptação, e pela incorporação fácil e destemida do rock e blues. Esta grande disponibilidade para a mistura faz com que seja capaz do melhor (“Still Warm” ou “Time On My Hands”, por exemplo), mas também de discos muito pouco recomendáveis (“Electric Outlet”). Assim, não podemos falar de um Scofield, mas sim de vários, em diferentes períodos: o da Blue Note (89-95), o da Verve (96-2005), por exemplo, onde estão algumas das suas melhores gravações. E como nem tudo o que scofielda é ouro, quando sai um disco novo, o entusiasmo deve ser temperado.

A ligação à ECM é recente, começou em 2020 (em nome próprio) e saiu este mês um novo disco a solo (com o acompanhamento gravado em “loops”). O primeiro disco a solo em 50 anos, autointitulado, diz-nos que vamos entrar numa área pessoal. É razão de emoção redobrada para quem, gosta particularmente do ataque e do fraseado sucinto do guitarrista americano.

Treze temas numa mescla difícil de perceber: oito covers (Jarret, tradicionais, soongbook, Buddy Holly, Hank Williams) e cinco temas antigos seus, tudo canções muito melódicas e fáceis de ouvir, perto dos blues.

A escolha do alinhamento e a leitura que deles é feita (bem como o facto de se usar sempre a mesma técnica e instrumentação), deixa a sensação que estamos a ouvir canções sempre com um ambiente e sentimento semelhantes, formas semelhantes e som semelhantes. Repete-se a palavra semelhança para acentuar a sensação. De repetição.

As músicas não nos são dadas com um ângulo inabitual. “Not Fade Away” de Buddy Holly, por exemplo traz um bending perfeito das notas, admirável, mas muito pouco interessante globalmente falando, com um final demasiado longo que usa uma ideia curiosa (um loop invertido que evoca o "Fade Away") mas prolonga-o à exaustão.

O guitarrista é conhecido por gostar de tocar ao vivo, com um enorme leque de outros músicos dos mais diferentes estilos e linguagens. Este é um Scofield que teve que ficar fechado em casa, sem concertos. E essa sensação está, por vezes, muito presente. Ouvir um músico que há 50 anos toca guitarra e que tem um domínio absoluto do instrumento e uma linguagem pessoal, finalmente a contas consigo próprio, pode ser uma dádiva. Mas neste disco ouvimo-lo demasiado íntimo, cru, de fato de treino. Temos o seu som e a sua maneira de tocar, o detalhe dos seus bends, relembramos um tema excecional de Keith Jarrett (“Coral”), dois originais de Scofield (“Elder Dance”  e “Trance Du Hour”); mas não temos muito mais que isso.

  • John Scofield (ECM)

    John Scofield

    John Scofield (guitarra elétrica)

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25 Março

Duke Ellington’s Songbook

Sunset Jazz - Café 02 - Vila Nova de Santo André

25 Março

Mário Laginha com Orquestra Clássica da Madeira

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25 Março

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25 Março

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O'culto da Ajuda - Lisboa

25 Março

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

25 Março

Katerina L’Dokova

Auditório ESPAM - Vila Nova de Santo André

25 Março

Kurt Rosenwinkel Quartet

Auditório de Espinho - Espinho

26 Março

Giotto Roussies Blumenstrauß-Quartett

Cantaloupe Café - Olhão

26 Março

João Madeira, Carlos “Zíngaro” e Sofia Borges

BOTA - Lisboa

26 Março

Carlos Veiga, Maria Viana e Artur Freitas

Cascais Jazz Club - Cascais

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