Jorge Moniz: “Cinemateque” (Edição de autor)
Edição de autor
Músico com vasta história enquanto baterista de jazz, Jorge Moniz apresentou uma surpreendente mudança de direção: mudou-se para o piano e revela-nos uma delicada música cinematográfica.
Jorge Moniz é um dos pilares discretos do jazz nacional. Tem um percurso ligado à pedagogia, como professor e diretor da Escola de Jazz do Barreiro, da qual é um dos fundadores. Em paralelo tem desenvolvido um importante trabalho enquanto músico, afirmando-se como baterista tecnicamente evoluído e, também, compositor. Lançou o seu disco de estreia enquanto líder em 2010, “Deambulações” (edição de autor), um álbum gravado com Júlio Resende (piano), Mário Delgado (guitarra) e João Custódio (contrabaixo).
Seguiu-se em 2014 “Inquieta Luz” e, em 2016, “Reencontro”, num trio com o jovem guitarrista Pedro Branco e João Custódio (parceiro habitual) - ambas edições Sintoma Records. Recentemente, Jorge Moniz tem colaborado com músicos como Beatriz Nunes e Luís Barrigas (no Indra Trio, que editou o ainda fresco “Shiva”), sendo ainda o diretor artístico do festival Jazz no Parque, do Barreiro (que neste 2022 apresentou um cartaz recheado de estrelas, como John Surman, Marc Copland, Mat Maneri e Julia Hülsmann, entre outros).
Neste “Cinematheque” Jorge Moniz apresenta uma surpreendente mudança de direção: desde logo, muda de instrumento, deixa a bateria e passa para o piano. E, em lugar do jazz swingante que lhe conhecíamos, revela-nos agora uma música de câmara original, com um espírito contemplativo e cinematográfico. Desde logo, destaca-se a composição, num total de nove temas originais saídos da pena de Moniz, todos os temas facilmente apelativos, com ambientes marcados por melancolia.
Neste disco, Moniz (piano, piano elétrico e eletrónica) está acompanhado por Jorge Vinhas e Francisco Ramos no violino, Eurico Cardoso na viola, Emídio Coutinho no violoncelo, Inês Jacques na voz e Ana Rita Pratas no clarinete baixo. O trabalho de arranjos, sobretudo pela intervenção do quarteto de cordas, acentua essa toada melancólica. Assente nas linhas mestras desenhadas pelo piano, e banhada pelas cordas, a música deste disco é sedutora, soa a música de câmara, a bandas sonoras imaginárias, evocando por vezes os universos oníricos dos filmes de Hayao Miyazaki.
Esta música aproxima-se do neo-clássico, da contemporânea pop, até de um certo minimalismo (ficando a meio caminho entre Ludovico Eunaidi, Rodrigo Leão e Joe Hisaishi). Não é música que nos provoque e desafie, como fazia o anterior trabalho mais jazzístico de Moniz. Sem risco, a música deste “Cinemateque” é segura e confortável; é suave e delicada, recomendada para ouvidos de veludo.
Uma nota final para a capa do disco, porque os olhos também ouvem (ou, dito de outra forma, a perceção visual condiciona a perceção e fruição sonora): a capa do disco “Cinemateque” foi trabalhada por Chris Bigg, o designer gráfico que criou a identidade visual da editora de música alternativa 4AD – Dead Can Dance, Cocteau Twins, His Name Is Alive, Pixies, Lisa Gerrard, etc.
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Cinemateque (Edição de autor)
Jorge Moniz
Jorge Moniz (piano, piano elétrico Rhodes e eletrónica); Jorge Vinhas (violino); Francisco Ramos (violino); Eurico Cardoso (viola); Emídio Coutinho (violoncelo); Ana Rita Pratas (clarinete baixo); Inês Jacques (voz)