Festival Porta-Jazz, 19 de Janeiro de 2022

Festival Porta-Jazz

O Norte reinicia

texto: Gonçalo Falcão

Depois de um ano em que o festival foi obrigado a tocar ao ar livre, volta em 2022 ao interior do Rivoli com as portas que lhe pertencem. Reinicia o bom movimento do jazz feito no Norte, que se uniu numa associação que tem sido capaz de pôr a tocar os seus músicos. O Porta-Jazz é um festival regional que nunca deixou de se abrir e acolher o resto do mundo como é o exemplo das parcerias que criou com a Robalo de Lisboa, por exemplo, ou com a AMR de Genebra ou com o festival austríaco Bezau Beatz. Temos ainda a editora – a Carimbo Porta-Jazz – que tem sido capaz de gravar e editar a música feita pelos associados e que de algum modo cria a linha de programação deste evento. Vão ser 17 concertos em três dias com oitenta músicos + seminários + jam sessions. Diz a produção que a 12.ª edição se apresenta “nua”: livre, clara e simplificada. Como se vem ao mundo.

Vamos por dias:

1.º dia / 4 de fevereiro / sexta-feira

O festival abre portas no dia 4 às 21h30 no Grande Auditório Rivoli. Para a inauguração, os concertos serão só dois e no palco principal.

Grande Auditório

Começa apropriadamente com o Lançamento do CD “Suspenso, da editora da casa. O novo disco de Manuel Linhares relembra uma das palavras do ano que passou, com o mundo mais ou menos na espectativa, uma suspensão que nos afetou a todos mas em particular e de forma mais cruel, os músicos. No palco do Rivoli para a apresentação do disco estará Manuel Linhares (voz), Paulo Barros (piano), José Carlos Barbosa (contrabaixo), João Cunha (bateria), António Loureiro (convidado). Tocará depois o “Coreto”, o grupo liderado pelo saxofonista João Pedro Brandão. Em palco estará uma formação de proporções quase sinfónicas: João Pedro Brandão (sax alto, flauta), José Pedro Coelho e Hugo Ciríaco (sax tenor), Rui Teixeira (sax barítono), Ricardo Formoso (trompete, fliscorne), Gonçalo Marques (trompete), Daniel Dias (trombone), Andreia Santos (trombone), AP (guitarra), Hugo Raro (piano), José Carlos Barbosa (contrabaixo), José Marrucho (bateria). A música do Coreto escrita por João Pedro Brandão continua a ser entusiasmante de ouvir ao vivo e perceber o modo como articula as suas composições em grandes ensembles. Admirando a sua coragem. No Café Rivoli a noite continuará com a jam session com os Jobra.

2.º dia / 5 de fevereiro / sábado

No segundo dia do festival as atividades começam cedo. Vamos ter concertos nos três palcos da casa e por isso é preciso dividir a informação em três partes:

Palco GA e  Sub Palco

Como é fim-de-semana, a música começa às 16h com um duo português que vem de Amsterdão. Vera Morais é cantora, improvisadora e compositora e Hristo Goleminov (que apesar do nome também é portuense: o jovem saxofonista vem de duas famílias musicais famosas: neto do compositor búlgaro Marin Goleminov, filho do maestro Kamen Goleminov e da violinista Rumyana Badeva, da Orquestra Sinfonica do Porto/Casa da Música).

O duo que vive em Amsterdão justapõe a voz humana à do saxofone. Música elástica, por vezes minimal, onírica, uma proposta imperdível. No mesmo palco a música seguirá com o ensemble que mistura a Associação de Lisboa “Robalo” com a da “Porta-Jazz”. Da Robalo vêm a cantora Leonor Arnaut, o trompetista João Almeida e o contrabaixista João Fragoso. Ao trio juntar-se-á o baterista Gonçalo Ribeiro e os guitarristas Eurico Costa e Nuno Trocado da Porta-Jazz. Esta junção de grandes cidades far-se-á, apropriadamente, numa residência artística da qual surgirá a música que ouviremos tocada por esta instrumentação inusitada.

Pequeno auditório

Se preferirmos o palco do pequeno auditório teremos às 18h15 a Joana Raquel e o Miguel Meirinhos a tocar “Ninhos”: CD em lançamento. Neste primeiro trabalho a voz de Joana Raquel, (que conhecemos do duo de voz e saxofone 293-Diagonal ou no Hip Hop de “Capicua”) juntar-se-á ao pianista Miguel Meirinhos; o duo convida a secção rítmica de Demian Cabaud/João Cardita para alargar a quarteto e com secção rítmica alargar o duo.

Seguir-se-á a música do trio Puzzle 3 que também tem um disco novo (“D”) para rodar. O grupo de piano contrabaixo e bateria (Pedro Neves [piano], João Paulo Rosado [contrabaixo] e Miguel Sampaio [bateria]) são um curto desafio em 3 peças. Propõem com este trio melódico um fim de dia em beleza.

Grande Auditório

Já no palco grande a música só soará à noite. Às 21h30 teremos o quinteto do contrabaixista Damian Cabaud com a apresentação de "Otro Cielo", o primeiro disco editado pela “Carimbo” no ano passado. Cabaud não surpreendeu e juntou-se com um grupo habitual. Dois saxofones (José Pedro Coelho e João Pedro Brandão), piano (João Grilo) e bateria (Marcos Cavaleiro). A música de Cabaud já nos é familiar. Não esperamos revoluções nem novidade mas sim consistência, rigor, melodia e um sabor a música tradicional. Depois do espetáculo inaugural, ouviremos "Sombras da Imperfeição", um concerto desenhado.

A apresentação deriva da oportunidade proporcionada pelo Guimarães Jazz para os concertos de cruzamento de artes que habitualmente ocorrem na Black Box. O pianista Hugo Raro juntou uma formação extraordinária de piano, guitarra portuguesa (Miguel Amaral), clarinete baixo (Rui Teixeira) e percussão (Miguel Sampaio) com o artista plástico Jas, que cria imagens em tempo real que influenciam e são influenciadas pela improvisação. A jam session da noite no Café Rivoli serão conduzidas pelo Conservatório Musical do Porto.

3.º dia / 6 de fevereiro / domingo

E o festival fecha ao terceiro dia, domingo, com a mesma intensidade de concertos. Vamos a eles

Palco GA e  Sub Palco

Tal como no dia anterior, será neste palco que a música junta diferentes grupos/associações. Será a Residência AMR (l’Association pour l’encouragement de la Musique impRovisée) da Suíça com a Porta-Jazz.

As iniciativas para a internacionalização dos músicos portugueses são sempre bem-vindas e este é um destes esforços. A Associação de músicos Suiça, sediada em Genebra, funciona com propósitos e moldes parecidos com a portuense. O clarinetista e saxofonista Eloi Calame e o contrabaixista Pierre Balda são os “enviados especiais” para esta missão em terreno tripeiro. A hospitalidade está a cargo de três jovens músicos locais, o saxofonista Afonso Silva, o guitarrista Hugo Ferreira e o baterista João Pedro Almeida. O quinteto mostrará o resultado da residência e as expectativas são altas como os alpes da terra dos convidados.

O segundo concerto do dia neste palco é dos Wiz que também é um grupo multinacional. O saxofonista José Pedro Coelho junta-se ao guitarrista francês (a residir na Galiza) Wilfried Wilde e ao baterista espanhol Iago Fernández para um trio com um instrumento melódico, outro harmónico e melódico e outro rítmico. Há que ouvir.

Pequeno auditório

No palco do pequeno auditório teremos, às 18h15 tal como na véspera o concerto: “Encomenda a Daniel Sousa” que também junta três países diferentes e garante uma solicitação musical propositada para o festival. O segundo concerto será a “Dança Dos Desastrados” de Miguel Ângelo. Depois “Branco", o álbum de estreia de 2013, “A Vida De X” de 2016, o quarteto, liderado pelo contrabaixista mantém a formação em quarteto com os habituais João Guimarães (Sax alto), Joaquim Rodrigues (piano) e Marcos Cavaleiro (bateria) e explora música baseada em melodias tradicionais (reais ou imaginárias).

Grande auditório

A noite começa às 21h30 com o “Alfred Vogel’s ‘Nest’” um grupo que evoca um texto extraordinário que testa os limites da ideia de arte com a exposição numa galeria de uma armadilha de caça e explora o debate sobre a sua pertença ao mundo da arte (Vogel’s net, Traps as Artworks and Artworks as Traps). Aqui teremos mais uma vez a junção do Associação do Porto com uma congénere Austríaca: a “Bezau Beatz” é um festival criado e impulsionado por músicos e em particular pelo baterista Alfred Vogel. O quarteto é admirável: para além do emblemático Alfred Vogel ouviremos também o virtuoso violinista francês Theo Ceccaldi, o pianista Felix Hauptman e o baterista Leif Berger, dois músicos alemães que são uma referência no jazz de Colónia. E ainda o contrabaixista e multi-instrumentista americano Chris Dahlgren, colaborador, entre outros nomes de não menos importância, de Anthony Braxton.

À noite, para fechar o festival ouviremos a “Conexão” do multi-instrumentista brasileiro António Loureiro: cantor, compositor e produtor de jazz mas também de música popular. Como o próprio nome indica, “Conexão” junta cinco músicos portugueses  - André Fernandes (guitarra), João Mortágua (saxofone), Gil Silva (trombone), José Carlos Barbosa (contrabaixo) e Diogo Alexandre (bateria).

A jam session da noite no Café Rivoli está a cargo do ESMAE Ensemble.

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

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