Festival Theia, 22 de Abril de 2022

Festival Theia

Três gerações de mulheres criativas

texto: Nuno Catarino / fotografia: Márcia Lessa

O Centro Cultural Malaposta, em Odivelas, vai acolher a primeira edição do Festival Theia. Com curadoria artística de Rita Maria, o novo festival celebra três gerações de mulheres criativas, à volta do Dia Internacional do Jazz. Nos dias 28, 29 e 30 de abril, a Malaposta apresenta concertos de Joana Raquel & Miguel Meirinhos, Zoe (duo de Marta Garrett e Inês Laginha), Herse (trio de Sofia Sá, Clara Lacerda e Raquel Reis, em estreia), Mariana Dionísio & Leonor Arnaut, trio de Beatriz Nunes, Paula Sousa e Mário Franco (a apresentar "À Espera do Futuro") e Nazaré da Silva Quinteto. Estivemos à conversa com a programadora Rita Maria, também cantora e compositora.

Rita Maria começa por explicar como surgiu a ideia de criar o festival Theia: «Como qualquer sonhador, tenho sempre num bolso imaginário uma série de projetos que gostaria de poder desenvolver. Tenho vindo a colecionar ao longo da vida muitas ideias para áreas completamente diversas, mas esse é assunto para outra entrevista! No caso de Theia, a ideia da sua criação parte de uma reflexão sobre o que me parece ser necessário e valioso construir para um amanhã mais luminoso dentro do campo das artes performativas. Neste caso específico, dentro do jazz e música contemporânea, Theia quer constituir-se como uma mais valia para a equidade de representação dos seus elementos ativos, bem como um contributo artístico para a sociedade civil. A dupla de diretoras artísticas do Centro Cultural da Malaposta, Joana Ferreira e Manuela Jorge, fez-me um convite para programar a celebração do Dia Internacional do Jazz, um convite com muito espaço para a imaginação. Foi através desta carta branca que pude desenhar de forma mais concreta a possibilidade de pôr de pé esta ideia. Tive muita recetividade e apoio da Joana e da Manuela desde o primeiro momento e isso ajudou-nos a chegar à concretização da primeira edição deste festival.»

O programa musical apresenta projetos já consolidados e projetos criados especificamente para o evento. A curadora fala sobre a tarefa de programar: «O que mais me fascina nos festivais é o seu potencial criador. O programador deve ser alguém atento, conhecedor do que pretende programar, com consciência da sua missão e responsabilidades culturais e artísticas. À parte de uma programação consistente, cabe também ao programador a missão de proporcionar novas oportunidades, tanto para os artistas que convida como para o público que assiste. A meu ver, um festival deve querer-se sempre em evolução, com ofertas de criação que só podem ser vividas graças à sua existência. Nesta primeira edição o festival oferece uma mostra daquilo que é o trabalho de três gerações na área do jazz e música contemporânea no feminino em Portugal. Tenho muito carinho por todos os projetos e claro, deu-me especial gosto poder juntar três artistas para criar um ensemble que se vai estrear nesta primeira edição [Herse].»

Em paralelo com o programa musical, o festival apresenta ainda quatro filmes - “Lady Be Good: Instrumental Women in Jazz”, “Book of Days”, “Birds of Paradise” e “Heart of a dog” - e promove o debate com três conferências: "Onde estão as mulheres na cultura artística?", com Filipa Lowdes Vicente e Teresa Gentil; "Onde estão os ativismos na música?", com José Dias e Lilian Campesato (dia 29); e "Onde estão as criadoras hoje?" com Ângela da Ponte, Aline Frazão e Sara Serpa (dia 30). Todas as conferências contam com moderação de Beatriz Nunes. A programadora explica porque decidiu integrar estas diversas atividades: «Quando pensei no festival tinha vontade que fosse mais do que uma série de concertos, especialmente uma vez que a temática é o feminino nas artes, onde tanto é desconhecido do público em geral. Achei essencial haver o cuidado de criar um programa multifacetado que permitisse um olhar mais abrangente, daí a integração de filmografia artística e documental bem como das conferências temáticas com investigadoras da área, ativistas e artistas. A Beatriz Nunes revelou-se uma colaboradora chave na elaboração do programa das conferências porque além de artista é também ela investigadora de doutoramento na área dos estudos de género dentro das artes, será ela a moderadora deste ciclo. Pensámos primeiramente na importância de fazer uma retrospetiva histórica do papel e obra artística no feminino, daí seguimos para a atualidade e por fim questionamos o futuro. O painel de seminaristas é brilhante! Estou muito entusiasmada com esta dimensão do festival, como do restante programa, claro.» 

Decorrerá, em simultâneo, uma instalação visual a cargo da artista/performer Catarina Loura. «Surgiu inicialmente por sugestão da dupla de direção artística da Malaposta e abriu portas a uma dimensão que muito me alegra. Convidei a Catarina Loura para fazer uma instalação visual de raiz para esta primeira edição, ou seja, temos uma estreia absoluta, em completa sintonia com o conceito de Theia. A Catarina Loura para além de artista visual é também performer pelo que, conjuntamente com a instalação das obras que criou, fará uma apresentação sua no dia da estreia do festival.»

Sendo ainda muito cedo para avaliações, é inevitável começar a pensar no futuro… Conta Rita Maria: «Não é fácil fazer um festival com as características do Theia, é um conceito pouco explorado e como novidade que é, há tanto de atrativo como de estranheza. Pelo que venho observando, o público português gosta de saber com o que contar, é sempre arriscado quebrar com certos paradigmas, não obstante temos na programação projetos mais consolidados a par de projetos que primam igualmente pela qualidade e que serão certamente agradáveis descobertas para o público. Aquando do convite às artistas senti uma receção muito calorosa, todas entenderam a importância da iniciativa e reagiram com entusiasmo, esse facto foi marcante para mim. Ficou muito patente o sentimento de pertença a uma comunidade, que se robustece com o aparecimento de Festivais como o Theia. Acredito ser essencial a diversificação da oferta para a criação de públicos também eles diversificados, novos frequentadores deste tipo de iniciativas, nomeadamente público mais jovem e claro, público feminino. Não quero de todo com isto dizer que não conto com a participação dos habitués dos festivais de jazz, aliás conto com a sua presença e feedback, no entanto conto também com o alargamento a potenciais interessados que não façam parte necessariamente da franja atraída pelo jazz. Com respeito ao futuro, estamos já a projetar a próxima edição do festival, que contará possivelmente com a vertente itinerante. Teremos novas adições ao rol de atividades integradas, surpresas relevantes que este ano não puderam ver a luz do dia, só de pensar nisso já fico entusiasmada.»

Toda a informação sobre o festival - concertos, conferências, atividades paralelas, horários e bilhetes – está disponível no site da Malaposta.

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

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